“Feministas” e “machistas” fazem guerra no (e por culpa do) Facebook
Enquanto você lê este texto, ativistas do feminismo e homens (e mulheres, por que não?) “machistas” estão travando uma guerra no Facebook.
O objetivo da guerra é simples: derrubar as páginas uns dos outros por discordarem frontalmente do que é dito nelas.
Começou com as feministas, que conseguiram derrubar a página “Orgulho de Ser Hétero” no último domingo (1). No contra-ataque, páginas feministas e pró-homossexuais como “Feminismo Sem Demagogia”, “Moça, Você é Machista” e “Cartazes & Tirinhas LGBT” caíram nos dias seguintes.
Sobrou até para a vlogueira Julia Tolezano, a Jout Jout, que teve sua página “Jout Jout Prazer” derrubada.
Parece que minha página foi reportada como fake. Bitch… A F F – ela diz enquanto revira os olhos.
— Jout Jout (@joutfuckinjout) 3 novembro 2015
Tudo porque defende a bandeira feminista –aliás, um dos últimos vídeos dela fala sobre o assunto, especificamente de assédio sexual, e viralizou na web.
Como isso funciona? No Facebook, você pode denunciar qualquer página que, em tese, fere os chamados Padrões da Comunidade –como a rede social chama seu conjunto de regras de convivência.
Um dos motivos para pedir a derrubada de uma página ou perfil é a promoção de discursos de ódio.
Eis o que o Facebook fala sobre o tema:
“O Facebook remove discursos de ódio, o que inclui conteúdos que ataquem diretamente as pessoas com base em raça, etnia, nacionalidade, religião, orientação sexual, gênero ou identidade de gênero, ou deficiências graves ou doenças.
Organizações e pessoas dedicadas a promover o ódio contra grupos protegidos não têm a presença permitida no Facebook. Levando em conta nossos padrões, precisamos que a nossa comunidade denuncie esse tipo de conteúdo para nós.”
Há um mês, a chefe global da equipe de revisores do Facebook, Monika Bickert, esteve no Brasil e admitiu a dificuldade que é decidir o que deve ou não ser deletado. Segundo ela, quase sempre o revisor não tem o contexto do qual a página/postagem está inserida, o que dificulta a missão e aumenta o risco de injustiças.
O que, espero eu, foi o caso da guerra da qual falamos aqui neste momento.
Grupos feministas partiram para cima de páginas “machistas” devido ao discurso de ódio contra feministas e homossexuais. Ambos os casos ferem os Padrões de Comunidade do Facebook.
Mas qual é o motivo para que o Facebook delete páginas feministas? Discurso de ódio contra homens heterossexuais? Se for, algo está errado com os critérios da rede social.
A empresa de Mark Zuckerberg gasta bastante energia (e verba) para vender a ideia que é progressista e defende minorias e o tratamento igualitário, tanto que colocou o discurso de ódio sob diversos aspectos como algo não aceito nas postagens. Mas falta colocar isso em prática com mais veemência — e este episódio provou isso.
Não adianta nada o Facebook criar filtro para colocar arco-íris em foto de perfil se permite prosperar páginas que propagam discurso de ódio e, principalmente, permite o fechamento de páginas de ativistas com a facilidade que foi vista contra as feministas.
E, dado o clima de fla-flu que contamina quase todo assunto no país, o risco de essa prática se espalhar é alta. Basta algum grupo mais organizado partir para a ação.
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Enquanto isso, quase todos os personagens dessa guerra estão vivos, criando novas páginas para continuar a brincadeira. E, pior, deu brecha para que os adversários criassem antes as páginas e promovessem conteúdo contrário –como, por exemplo, na “nova” página do Feminismo Sem Demagogia.