Onde os invisíveis têm vez

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Invisível

“Faz 60 dias que cheguei em São Paulo, mas logo que pisei aqui roubaram todos meus documentos e agora tô na rua. Não é fácil não, ganho um dinheiro olhando carro, mas o foda é que eu uso muita droga, uso de tudo, menos maconha. O que eu mais sinto falta é de um abraço, uma risada, uma conversa tipo a nossa assim, dessas coisas, cara. Minha mãe me abandonou quando eu era moleque ainda porque nasci com uma deficiência. Cresci com a minha avó, mano, ela é tudo pra mim, mas não quero voltar lá pra dar trabalho, quero me arrumar, parar de usar droga e trabalhar pra voltar bem e ser orgulho pra ela.”

Essa poderia ser a história de um parente, um vizinho de infância, um conhecido. Talvez até seja, mas foi contada por um morador de rua –aquele mesmo que a grande maioria das pessoas trata como um ser invisível ou, pior, como uma iminente ameaça.

Dar voz a estas pessoas –no caso descrito acima, o jovem Bruno, 24— é o trabalho feito pela página no Facebook “SP Invisível”, que já tem mais de 40 mil seguidores.

A página é tocada pelo estudante de jornalismo Vinicius Lima, 18, e mais um amigo. Foi criada no início do ano para contar histórias em primeira pessoa –com todos os seus problemas. Sai na linha da famosa página “Humans of New York”, que retrata moradores da cidade americana e virou sucesso na rede, com mais de 10 milhões de seguidores.

Com o passar do tempo, o “SP Invisível” achou o perfil ideal de pessoas para retratar: os moradores de rua.

“A vida de todo mundo era boa no Facebook. Decidimos então mostrar a vida como ela é, com vícios, tristezas, decepções e tudo”, explica Lima. “Normalmente [os moradores de rua] são as melhores histórias e as mais despercebidas”.

Para fazer as postagens, a dupla tenta uma abordagem mais descontraída, grava a conversa e transforma o material em um texto em primeira pessoa.

“A maioria recebe bem, gosta da foto, gosta do papo. Eles querem mais ser ouvidos do que ajudados”, explica o estudante. “Não que a ajuda não seja importante: não podemos perder o foco, que é abrir a cabeça e os olhos do pessoal para então ajudarem os que estão à sua volta.”