São Paulo x Curitiba: sem extremos
Como um órgão público deve se portar nas redes sociais?
Essa pergunta ganhou um interessante contorno nesta semana, quando o pessoal que cuida da conta da Prefeitura de São Paulo resolveu, digamos, se rebelar contra a pressão dos seguidores para agir como uma ‘Prefs’.
‘Prefs’, no caso, é o apelido incorporado pela página da Prefeitura de Curitiba, considerado um case de sucesso na interação com os seguidores.
A tática da Prefeitura de Curitiba não é exatamente nova: ela abusa de memes para entreter o seguidor para, no meio de todas aquelas brincadeiras, passar as informações necessárias.
O que tornou o caso de Curitiba um sucesso é, na verdade, o fato de até então nenhum órgão público ter se soltado das amarras do formalismo para se expressar nas redes sociais.
Maaaaas (sempre tem um maaaaas) o problema é que há motivos para torcer o nariz para esse modo de se comunicar com a população. Nesta hora entra a página da Prefeitura de São Paulo.
Viralizou nesta semana uma resposta deles a uma seguidora que questionou o motivo de não serem tão brincalhões como na página da Prefeitura de Curitiba.
A resposta está abaixo:
De forma resumida, os administradores da página apontam para os excessos de Curitiba, atacando diretamente o principal personagem da página deles, a capivara –bicho pelo qual os curitibanos nutrem simpatia devido ao bando que mora no parque Barigui, o principal da cidade.
“Colocar capivaras voando não ajuda a pessoa a ser mais cidadã”, disparam. Também citam uma crítica comum à página da capital paranaense, a de que muitos dos seguidores não serem de lá, o que diminui sensivelmente sua utilidade pública.
Não demorou muito para a Prefeitura de Curitiba fazer um post-resposta, com um tom um pouco mais professoral que a média, mas ainda assim leve.
“A Prefs teve a humildade de aceitar a linguagem e a estética que dominam as redes sociais. Entendemos que é o poder público que deve se esforçar para se aproximar das pessoas e não o contrário. Foi assim que a prefeitura virou a Prefs; um apelido que vocês nos deram e nós aceitamos – e não dá pra parar de agradecer: obrigada! Há, entre os estudiosos e profissionais da comunicação, os que torçam o nariz para os memes que vocês compartilham por aqui. Há os que acreditem que essa é uma forma de comunicação rasa e tola, sem o potencial de transmitir mensagens complexas. Respeitamos a opinião deles, mas embasamos nosso trabalho numa outra percepção: memes são o entretenimento feito por milhões e consumido por milhões. Memes também são cultura popular e devem ser entendidos como tal, sem preconceito”, dizem os curitibanos.
Em outra oportunidade, a Prefeitura de Curitiba desmentiu a informação sobre o excesso de seguidores de fora da cidade. Há quatro meses (e, acredito eu, esse panorama mudou pouco), cerca de 40% dos seguidores eram de lá. É pouco? Depende. Atualmente eles têm quase 700 mil seguidores –ou seja, 40% disso (uns 280 mil) já seria mais que qualquer página de Prefeitura do país. A de São Paulo, por exemplo, tem 140 mil, metade, e numa cidade oito vezes maior.
É inegável que a tática curitibana é um sucesso. Maaaaas (olha ele aí de novo), há problemas.
Me incomodava bastante posts sem ter relação direta com a atividade principal, a informação ao munícipe. Ainda acontece, mas era mais comum antigamente –hoje eles amarram melhor os memes às informações.
Outro ponto irritante é a forçada de barra em “interagir” com outras Prefeituras. Vamos combinar: uma coisa é se inspirar no case de Curitiba e fazer algo parecido (o que, aliás, sai bem errado na maioria das vezes), outra é tentar pegar carona no sucesso curitibano e a ‘Prefs’ embarcar, gerando uma espiral de novas interações desnecessárias.
Por exemplo, tem coisa mais sem sentido que prefeituras fazendo declarações de amor uma a outra?
Tendo a dar alguma razão aos paulistanos: não compete a um órgão público ser tão solto. Sim ao texto menos sisudo, não às capivaras voando.
Mas a dose de mau humor do post da Prefeitura de São Paulo mostra o outro extremo que também deve ser combatido. A crítica direta aos curitibanos, uma clara falta de diplomacia que também já foi vista em outras respostas truculentas a seguidores da página, é um exemplo disso.
Brincadeiras também fazem bem se colocadas dentro do contexto da mensagem a ser passada.
Se os fins justificam os meios, Curitiba está em ampla vantagem. Mas a discussão, embora colocada de forma torta, é pertinente.