Em rede social, homem relata experiência de assinar e-mails com nome de mulher: ‘o inferno’
Fora discrepância de salários e cargos de chefia entre homens mulheres, um experimento virtual “amador”, sem valor científico, mostrou que eles também tendem a ser privilegiados quando fazem contato profissionais por e-mail –e olha que a conclusão é masculina.
Na semana passada, envolto em celebrações pelo Dia Internacional da Mulher, lembrado mundialmente no dia 8 de março, o americano Martin R. Schneider contou na sua página na rede social Twitter o que aconteceu quando ele trocou sua assinatura por um nome feminino, o da sua colega de trabalho Nicole Halberg. No mesmo período do teste, ela passou a terminar e-mails com o nome dele.
Schneider teve a ideia depois de perceber que ele havia trocado, acidentalmente, a assinatura do seu e-mail pela de Halberg. Ele só se deu conta da falha porque estava sendo muito maltratado pelo cliente.
VANTAGEM INVISÍVEL
Frisa-se: a forma de trabalhar de ambos continuou a mesma, tendo mudado apenas a assinatura.
“Ela me ensinou como é impossível para as profissionais do sexo feminino obterem o respeito que merecem”, disse Schneider.
Segundo o americano, todas as suas perguntas ou sugestões eram questionadas. “Eu vivi o inferno”, escreveu no microblog.
“Os clientes com os quais normalmente era fácil lidar passaram a ser condescendentes. Um deles me perguntou se eu estava solteiro”, continuou na longa sequência de posts.
Halberg, por sua vez, “teve a semana mais produtiva de sua carreira”.
“Eu não era melhor do que ela no trabalho. Eu tinha apenas essa vantagem invisível”.
Abaixo, alguns dos tuítes originais, em inglês, seguidos da tradução com o relato de Martin:
So here's a little story of the time @nickyknacks taught me how impossible it is for professional women to get the respect they deserve:
— Martin R. Schneider (@SchneidRemarks) March 9, 2017
“Então, aqui está uma pequena história da vez que @nickyknacks me ensinou como é impossível para profissionais do sexo feminino obterem o respeito que merecem”
Nicole and I worked for a small employment service firm and one complaint always came from our boss: She took too long to work with clients.
— Martin R. Schneider (@SchneidRemarks) March 9, 2017
“Nicole e eu trabalhamos para uma pequena agência de empregos e uma queixa que sempre veio do nosso chefe é de como ela levava muito tempo para trabalhar com os clientes”
(This boss was an efficiency-fetishizing gig economy-loving douchebag but that's another story.)
— Martin R. Schneider (@SchneidRemarks) March 9, 2017
(Esse chefe tinha um fetiche por eficiência e era um idiota apaixonado pela economia sem vínculo, mas isso é outra história)
As her supervisor, I considered this a minor nuisance at best. I figured the reason I got things done faster was from having more experience
— Martin R. Schneider (@SchneidRemarks) March 9, 2017
“Como seu supervisor, eu achava que isso um pequeno incômodo sem importância, na melhor das hipóteses. O motivo para eu ter feito coisas mais rápido era por ter mais experiência”
But I got stuck monitoring her time and nagging her on the boss' behalf. We both hated it and she tried so hard to speed up with good work.
— Martin R. Schneider (@SchneidRemarks) March 9, 2017
“Mas eu me atinha a controlar seus tempos e a pressionava por conta do que o nosso chefe dizia. Nós dois o detestávamos, e ela tentava o possível para ser mais rápida com um bom trabalho”.
So one day I'm emailing a client back-and-forth about his resume and he is just being IMPOSSIBLE. Rude, dismissive, ignoring my questions.
— Martin R. Schneider (@SchneidRemarks) March 9, 2017
Um dia, eu estava trocando e-mails com um cliente sobre seu currículo, o que se tornou IMPOSSÍVEL. Ele era grosseiro e desrespeitoso, ignorando as minhas perguntas.
Telling me his methods were the industry standards (they weren't) and I couldn't understand the terms he used (I could).
— Martin R. Schneider (@SchneidRemarks) March 9, 2017
“Ele me dizia que seus métodos eram os padrões do mercado (não eram) e que eu não conseguia entender os termos que ele usava (eu podia)”
Anyway I was getting sick of his shit when I noticed something.
Thanks to our shared inbox, I'd been signing all communications as "Nicole"— Martin R. Schneider (@SchneidRemarks) March 9, 2017
“De qualquer forma, eu estava ficando cheio dessa merda quando eu notei algo. Graças à nossa caixa de entrada compartilhada, eu tinha assinado todas as comunicações como “Nicole”
It was Nicole he was being rude to, not me. So out of curiosity I said "Hey this is Martin, I'm taking over this project for Nicole."
— Martin R. Schneider (@SchneidRemarks) March 9, 2017
“Era com Nicole que ele estava sendo rude, não comigo. Então, por curiosidade, eu disse: “Ei, é Martin, estou assumindo esse projeto pela Nicole”
IMMEDIATE IMPROVEMENT. Positive reception, thanking me for suggestions, responds promptly, saying "great questions!" Became a model client.
— Martin R. Schneider (@SchneidRemarks) March 9, 2017
“MELHORIA IMEDIATA. Recepção positiva, agradecimento pelas sugestões, respostas sem demoras, elogios como “grandes perguntas!” Eu me tornei um cliente modelo”
Note: My technique and advice never changed. The only difference was that I had a man's name now.
— Martin R. Schneider (@SchneidRemarks) March 9, 2017
“Nota: Minha técnica e conselhos nunca mudaram. A única diferença era que agora eu tinha o nome de um homem”
So I asked Nicole if this happened all the time. Her response: "I mean, not ALL the time… but yeah. A lot."
— Martin R. Schneider (@SchneidRemarks) March 9, 2017
“Então eu perguntei para Nicole se isso acontecia o tempo todo. Sua resposta: “Nem todo o tempo… mas, sim. Muito.”
We did an experiment: For two weeks we switched names. I signed all client emails as Nicole. She signed as me.
Folks. It fucking sucked.— Martin R. Schneider (@SchneidRemarks) March 9, 2017
“Fizemos um experimento: durante duas semanas, trocamos os nomes. Assinei todos os emails para os clientes como Nicole. Ela assinou como se fosse eu.
Gente. Isso é foda”
I was in hell. Everything I asked or suggested was questioned. Clients I could do in my sleep were condescending. One asked if I was single.
— Martin R. Schneider (@SchneidRemarks) March 9, 2017
“Eu estava no inferno. Tudo o que eu pedi ou sugeriu foi questionado. Os clientes com os quais normalmente era fácil lidar passaram a ser condescendentes. Um deles me perguntou se eu estava solteiro”
Nicole had the most productive week of her career.
I realized the reason she took longer is bc she had to convince clients to respect her.— Martin R. Schneider (@SchneidRemarks) March 9, 2017
“Nicole teve a semana mais produtiva de sua carreira. Eu percebi que a razão pela qual ela demorava mais tempo lidando com clientes era porque ela tinha que convencê-los a respeitá-la”
I showed the boss and he didn't buy it. I told him that was fine, but I was never critiquing her speed with clients again.
— Martin R. Schneider (@SchneidRemarks) March 9, 2017
“Eu não era melhor do que ela no trabalho. Tinha, apenas, essa vantagem invisível”
“Eu mostrei tudo para o nosso chefe e ele não acreditou. Então eu disse que tudo bem, mas que já não iria pressioná-la para que fosse mais rápida com os clientes”
Here's the real fucked-up thing: For me, this was shocking. For her, she was USED to it. She just figured it was part of her job.
— Martin R. Schneider (@SchneidRemarks) March 9, 2017
“E o pior de tudo é que, para mim, foi algo surpreendente. Ela estava acostumada. Simplesmente entendia que era parte do trabalho”
(I mean, she knew she was being treated different for being a woman, she's not dumb. She just took it in stride.)
— Martin R. Schneider (@SchneidRemarks) March 9, 2017
“(Quer dizer, ela sabia que estava sendo tratada diferente por ser mulher, ela não é burra)”
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