Comece a semana bem: conheça um acervo virtual coletivo que promete tirar internautas da ‘bad’

Sarah Mota Resende

A avó da funcionária pública Ana Lívia R. Derigo, 28, tem Alzheimer, uma doença sem cura que afeta, sobretudo, idosos. Por causa do problema, que acarreta perda de funções cognitivas como a memória, a única pessoa que Aparecida reconhece é seu filho, Fausto, pai de Ana Lívia –e o que faz com que a senhorinha tenha sempre uma nova “descoberta” ao ver a neta.

“Hoje minha avó descobriu mais uma vez que eu sou neta dela. Umas 2 ou 3x por mês isso acontece. (…) Mas hoje foi mais especial! Ela veio me contar que meu filho é bisneto dela. Então eu contei que eu era neta dela. Ela ficou tão feliz! Me abraçou e chorou de alegria! Disse que estava até com medo de morrer, de tão feliz que ela estava! Nunca alguém me abraçou com tanta emoção, ninguém nunca tinha chorado de felicidade comigo!!! Isso me fez tão bem que por alguns minutos eu me senti a pessoa mais feliz e importante do mundo!!!”

 

 

O ÓCIO CRIATIVO 

A história se tornou viral, e veio parar aqui na Folha, quando foi compartilhado por Ana Lívia numa espécie de fórum virtual formado no site de relacionamento Facebook –até a publicação deste texto, o relato já tinha mais de 10 mil interações.

Falamos no “Grupo pra compartilhar videos fofinhos pra quando bater aquela bad“, comunidade criada em abril de 2015 pela cabeleireira Estela Françoso, 21. “Sempre rola aquelas noites de tédio em que a gente faz alguma coisa sem esperar nada demais dela, né? No meu caso, foi o grupo”, diz. 

Além de relatos como o de Ana Lívia, o “espaço” conta com um rico acervo comunitário, alimentado pelos próprios usuários, de fotos, vídeos e gifs, sobretudo de animais e de bebês, que têm a nobre função de animar adeptos da rede de Mark Zuckerberg.

Vídeo de cabras brincando

Tristonhos ou não, hoje são mais de 300 mil membros e cerca de 500 solicitações por dia, o que faz com que Estela precise de ajuda de mais duas administradoras e sete moderadoras para aceitar novos integrantes e apagar publicações denunciadas. “Estamos ali pra dar umas doses de bom senso e dar uma segurada no que pode ser incômodo para outras pessoas”, conta.

A REGRA É CLARA

“Queremos manter um lugar prazeroso e saudável”, diz a publicação de boas-vindas fixada no alto da página e cujo ofício é apresentar as “normas do jogo” aos novos integrantes.

Não pode homofobia, racismo ou intolerância religiosa e nem publicar selfies que só promovam o próprio fotógrafo fotografado –lembrem-se, “o foco deve ser a ‘fofura'”, diz o aviso. Assuntos relacionados a política também não são lá muito desejados. “Em épocas de eleição, sempre acontece alguém querendo debater sobre, mas eu corto. A galera perde a noção e sempre parte pra baixaria, então decidi já proibir pra não ter dor de cabeça”, diz Estela.

Nada de vídeos de gatos assustados com pepinos e nem qualquer coisa que envolva lóris, um pequeno primata de olhos grandes, típico da Índia e do Sri Lanka. “É muita crueldade”, lamenta a criadora do fórum ao explicar o motivo do banimento. “Os lóris ficaram ‘famosos’ por terem uma carinha de dó, mas como não são animais domésticos, tiram os dentes e umas glândulas venenosas que eles têm”.

Bichos selvagens, aliás, são tema de tópico único dentro do aviso com as regras. Posts com esse tipo de conteúdo não são proibidos, mas requerem atenção. “Eles não são pets, não devem ser domesticados e pertencem à natureza. Nós querermos um quando vemos algum vídeo fofinho, mas temos que pensar nesse vício de achar normal querer algo que nunca pode nos pertencer pois é daí que sai o contrabando de animais ‘exóticos'”, diz o alerta na página.

Mesmo com peso no coração, publicações que envolvam cachorros e gatos abandonados também são proibidas. A justificativa da moderação é de que, além de não ser o intuito do grupo, há outros coletivos virtuais próprios para esse tipo de ação e que podem ajudar bem mais os bichinhos.

Vídeo de criança cercada de filhotes de cachorros

COLETIVIDADE 

Mesmo tendo o trabalho de aprovar diariamente novos membros, além de intermediar discussões entre usuários, a ideia de administrar um grupo se mostra mais vantajosa que criar uma página pública. “Teria que dedicar muito tempo pra procurar conteúdo e publicar”, afirma Estela. 

No “grupo”, qualquer membro pode fazer suas próprias publicações, que vão desde relatos pessoais, como o de Ana Lívia, a compartilhamentos de outras páginas cujo conteúdo tenha “tirado da bad” o internauta. E, nessa seara, vídeos de crianças e cachorros tendem a ser imbatíveis, mas notícias, links externos e compartilhamentos de outras páginas também são bem-vindos. “As pessoas querem compartilhar algo que acharam legal e ver que outras pessoas também acharam aquilo bacana”.

O SUCESSO

Entre amigos, Estela diz que costuma até ser apresentada como a “dona-do-grupo-pra-compartilhar-vídeos-fofinhos-pra-quando-bater-aquela-bad” e que, inclusive, já foi abordada para tirar fotos.

A fama do coletivo também fez com que muita gente procurasse a dona propondo parceiras e sorteios. Mas, pelo menos por ora, “tudo recusado”, garante.

E FUNCIONA?

Estela acredita que sim. “Já recebi muitas mensagens carinhosas. Gente que fala que a família inteira gosta do grupo, que ajuda muito a encarar o dia a dia e por aí vai. Leio tudo e é sempre muito gratificante receber mensagens positivas. Os vídeos deixam aquele morninho no coração”.

E para a Ana Lívia do começo do texto? “Esse grupo é maravilhoso. Sempre me tira da bad. Sinto que para muitas pessoas, assim como para mim, ele é um lugar pra gente recarregar as energias, nos livrar do estresse, das energias ruins do dia a dia”, conta a funcionária pública.

FOFURÔMETRO NAS ALTURAS

Cinco escolhas feitas pelo #Hashtag de publicações com potencial nas alturas para tirar o marasmo que costuma vir acoplado as segundas-feiras…

Vídeo de bebê esfregando os pezinhos e tirando suas próprias meias 

Vídeo de criança cercada de filhotes de cachorros

Vídeo de cabras brincando 

Vídeo de criança que espera o irmão chegar da escola todos os dias com um abraço 

Vídeo de um “spa” para bebês