Mulheres denunciam desigualdade em campanha do governo sobre ‘ser trabalhadora’

Sarah Mota Resende

Às vésperas do Dia Internacional da Mulher, celebrado mundialmente nesta quinta (8), o Ministério do Trabalho resolveu fazer uma campanha, no Twitter, perguntando às internautas “o que é ser trabalhadora?”.

“A gente sabe que a sua batalha cotidiana é intensa”, diz o texto. A ação promovida na rede social da pasta ainda promete publicar algumas frases selecionadas —a exemplo, a conta destaca o comentário de uma usuária identificada como Mariana Rocha de que “ser trabalhadora é ser guerreira e ser resiliente.”

Mas a ação, que começou no último domingo, ganhou ares de protesto. Nos comentários, mulheres denunciaram machismo e desigualdade no ambiente de trabalho. Algumas usuárias ainda disseram que tiveram textos apagados pela administração da conta. A assessoria de comunicação do Ministério do Trabalho nega que tenha apagado comentários.

“É ter que ouvir na entrevista de emprego que preferem contratar homens porque eles não sentem cólica nem engravidam”; “É receber menos que os homens”; “É ter apenas 4 meses de licença maternidade, quando a OMS recomenda pelo menos 6 meses de aleitamento exclusivo (o programa Empresa Cidadã não é obrigatório). É o empreendedorismo materno compulsório porque foi demitida na volta da licença”; escreveram algumas internautas.

“É ser colocada em piores postos porque engravidou, é receber menos com a mesma qualificação, é não conseguir emprego porque tem filhos”; e “É ter que mentir dizendo que não pretende casar e ter filhos pra poder ser contratada”; “É ter medo de falar o que pensa nos ambientes de trabalho e ser taxada de histérica, porque se a mulher se altera, só pode ser ‘doida’ e estar de TPM”; e “É ser taxada de cabeça dura e com ‘personalidade forte’ por adotar a exata mesma postura de um homem que é visto como diligente e assertivo” foram outras respostas.

Uma usuária lembrou a gafe do presidente Michel Temer (MDB) no ano passado quando, no dia 8 de março, disse que cabe à mulher cuidar da casa e da formação dos filhos. Na época, o mandatário ainda afirmou que a mulher tem uma grande participação na economia do país porque é “capaz de indicar os desajustes de preços em supermercados” e “identificar flutuações econômicas no orçamento doméstico”. “É trabalhar o dia inteiro e ouvir do presidente da república que as mulheres são fundamentais para a economia do país por conhecerem os preços do supermercado”, escreveu a internauta.

Ao #hashtag, o Ministério do Trabalho informou que a campanha conseguiu envolver o público feminino em um assunto que lhe diz respeito, criando um ambiente de discussão e de livre expressão. “As manifestações expressas em parte das respostas denota uma realidade sobre desigualdade de gênero que ainda persiste no país, mas que vem se reduzindo. […] Apesar dessa evolução, o Ministério do Trabalho entende que ainda há muito o que se avançar nessa questão e que o tema tem de ser objeto de várias ações, inclusive debates públicos, para que cada vez mais sejam reduzidas as desigualdades de gênero no Brasil”, diz trecho da nota enviada ao blog.