Está triste com as eleições? Veja história do humor político no Brasil e ria um pouco

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Mateus Camillo

A tristeza é o sentimento predominante nessas eleições, segundo análise em comentários de redes sociais sobre os candidatos à Presidência.

O Datafolha também apontou que 68% dos brasileiros sentem raiva quando pensam no Brasil de hoje.

Para não deixar isso afetar ainda mais nossa saúde mental, o blog #Hashtag, resolveu contar um pouco a história do humor no contexto político.

É apenas próximo à Revolução Francesa, em 1789, que figuras antes intocáveis dos governos absolutistas na Europa passam a ser alvo de um humor até bastante agressivo para a época, com base principalmente em caricaturas, explica Isabel Lustosa, cientista política e historiadora da Fundação Casa de Rui Barbosa.

A rainha francesa Maria Antonieta, a única da história da França a ser decapitada, é um dos primeiros exemplos. Pouco depois, o imperador Napoleão Bonaparte, também francês, torna-se alvo de caricaturas e desse humor mais radical, principalmente na Inglaterra.

“A imprensa de humor se firma como um espaço de desconstrução de determinadas imagens. Até o papa e dom Pedro I chegaram a ser retratados”, diz Isabel Lustosa.

A imprensa passava, então, por um processo de crescimento e consolidação pelo mundo que aconteceria no século 19. E chegaria ao Brasil com mais força durante o Segundo Reinado (1840-1889) e a República Velha (1889-1930).

Revistas como Illustrada, Dom Quixote, Fon Fon e caricaturistas como Angelo Agostini e Raul Pederneiras marcaram época na imprensa brasileira, com o humor em quadrinhos sendo uma característica predominante.

O humor como expressão também foi usado por escritores como Olavo Bilac, Antônio Salles e Emílio de Meneses.  

Mas havia uma diferença entre a monarquia e a república. Enquanto com Dom Pedro a imprensa era livre, o grau de independência variava com os presidentes oligárquicos, segundo Isabel Lustosa.

Deodoro da Fonseca teve dificuldades em conviver com a imprensa. Ele reage com mau humor às primeiras caricaturas. Quando assume Floriano, há uma perseguição generalizada, de acordo com a cientista política. Rodrigues Alves, por sua vez, foi muito caricaturado e não ligava –até guardava alguns desenhos.

“Um lado interessante da caricatura é que, além de destruir a imagem, também pode servir para a humanização do personagem. Se você pegar Getúlio Vargas –era uma figura simpática, baixinho, boa para se fazer caricaturas– ao longo da trajetória o ato de ser caricaturado foi benéfico a ele, ele tornou-se mais íntimo do leitor”, diz Isabel Lustosa.

Outro terreno fértil para o humor político eram os Carnavais. Desfiles e marchinhas se tornavam populares no final do século 19, criando-se um espaço propício para fantasias representando presidentes,  

O rádio como a gente conhece só se desenvolveria a partir do Estado Novo (1937-1945).

E seria outro grande canal para a disseminação de um humor político. O primeiro grande marco foi uma música do compositor e caricaturista Antônio Nássara sobre as eleições que não aconteceram em 1937. Tratava-se de uma especulação sobre quem seria o presidente daquele ano: Armando Salles, o Manduba, ou Osvaldo Aranha, seu Vavá.

“A letra dizia: entre esses dois meu coração balança, mas na hora é seu Gegê [Getúlio Vargas]”, conta Isabel Lustosa.

Na época da Ditadura (1964-1985), a censura vem com força e impede boa parte das manifestações artísticas e culturais. Mesmo assim, o humor crítico persistiria principalmente em publicações como Pasquim (fundada por nomes como Jaguar e Ziraldo) e a breve –porém marcante– Pif Paf, criada por Millôr Fernandes.

A travesti Jane di Castro, capa da revista “Pasquim”, 1983. (Foto: Divulgação) 

Após a redemocratização, em 1985, a TV já era o principal meio de comunicação do Brasil, e os programas “TV Pirata” (1988-1992) e “Casseta & Planeta, Urgente” (1992-2010), ambos na Globo, com nomes como Bussunda, Reinaldo Figueiredo, Helio de la Peña, dentre outros, fizeram história e são a principal referência em humor político para a geração crescida nos anos 90.  

O humor se diversificou com a internet, que trouxe canais no YouTube e páginas de memes no Facebook.

O stand up –quando o artista conta piadas no palco– gênero consagrado por humoristas como Juca Chaves– também voltou à tona.

O comediante Fábio Rabin, 36, é adepto do estilo. “Falo mais de política porque as pessoas pedem com mais frequência”.

E até os políticos entram na onda. O candidato do MDB à Presidência, Henrique Meirelles, que fez uma campanha “moderninha” nas redes, tuítou: “Vamos ver se o @fabiorabin aprova meu terno no #DebateRedeTV”. Dias antes o humorista havia feito piada sobre o traje do ex-ministro.   

A polarização da sociedade também chegou ao humor. Gustavo Mendes, 29, ficou famoso por imitar a ex-presidente Dilma Rousseff em seu canal no YouTube. “Em 2015, quando o Aécio pediu recontagem dos votos, quem era contra a Dilma achava que eu era a favor dela e quem era a favor achava que eu era a contra. As pessoas não ouviam mais as piadas”, diz.

Não é assim sempre. “Recebo recados como ‘obrigado por me fazer rir num momento tão chato da democracia’. É uma sensação de dever cumprido”, diz Renato Terra, roteirista e colunista da Folha.

Conheça o canal do Gustavo Mendes, que segue imitando a Dilma, dessa vez como mediadora de debates.

Para quem tem saudades, Casseta & Planeta ainda está no YouTube, com vídeos novos.

O stand up de Fábio Rabin

A animação “Zumbis em Brasília” tem feito bastante sucesso –o primeiro vídeo tem quase 5 milhões de visualizações.

Não é de humor, mas também vale a pena ouvir o podcast Presidente da Semana, da Folha, um verdadeiro retrato histórico do país, apresentado por Rodrigo Vizeu. Siga cobertura das eleições em tempo real.