Relembre tuítes que tiveram impacto político, econômico e social, assim como post de dirigente da NBA
Com Donald Trump, nos EUA, e Jair Bolsonaro, no Brasil, o Twitter ganhou proporções talvez inéditas desde sua fundação, em 2006, no Vale do Silício. Os dois políticos poderosos costumam fazer anúncios primeiro ali, deflagar conflitos contra adversários ou criticar ideologias que consideram nefastas.
Um tuíte pode ter um impacto econômico, político e social. A crise entre NBA e China é o exemplo mais recente.
Daryl Morey, gerente-geral do Houston Rockets, publicou em sua conta no Twitter na sexta (4) uma mensagem que dizia: “Lute pela Liberdade. Fique com Hong Kong”. A China enfrenta meses de turbulentos protestos de Hong Kong, cujos resultados ainda são incertos.
A mensagem foi apagada pouco depois. No dia seguinte, Morey desculpou-se. Mas o estrago já havia sido feito e as consequências começam a ser sentidas nas ações da NBA no mercado chinês. A China é um dos principais mercados consumidores da liga, com cerca de 500 milhões de chineses, fruto de um esforço de seus dirigentes no início dos anos 90 de expansão para o país asiático que havia passado pelas reformas de abertura econômica de Deng Xiaoping e começava a sentir efeitos de prosperidade.
280 caracteres, limite de um único post no Twitter, são capazes de desestabilizar uma relação que era harmoniosa havia quase 30 anos.
Está no DNA do Twitter essa influência em eventos geopolíticos. A Primavera Árabe, protestos no Egito e na Tunísia em 2010 e 2011 que derrubaram ditadores, nasceu de postagens na plataforma. Obviamente não causaram a revolução em si, mas os atos ganharam amplitude com tuítes da população dos dois países.
Nesse post, relembro outros tuítes que tiveram impacto econômico, político ou social.
GOLDEN SHOWER
Final de terça-feira de Carnaval, 5 de março de 2019. O país preparava-se para retornar à rotina após a folia quando um tuíte publicado pelo presidente da República abalou a sociedade.
“Não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro. Comentem e tirem suas conclusões”, escreveu Bolsonaro, compartilhando um vídeo de um homem dançando sobre um ponto de táxi após introduzir o dedo no próprio ânus. Na sequência, surge outro rapaz que urina na cabeça do que dançava.
Por dias, não se falava sobre outra coisa no Brasil a não ser em golden shower. O presidente chegou ainda a publicar na manhã seguinte “O que é golden shower?“. O assunto dominou o noticiário nacional e repercutiu em diversos países pelo mundo. Bolsonaro jogou para sua plateia conservadora e cristã ao reduzir o Carnaval a um fato isolado, que não reflete a realidade de toda a festa pelo país. A oposição aproveitou o momento para afirmar que o presidente não estaria à altura de seu cargo, ao dar tanta importância a tema visto como lateral.
Temeu-se o impacto econômico que a postagem poderia desencadear ao desestimular turistas estrangeiros a visitar o país. Algumas semanas depois, após tamanha repercussão negativa, Bolsonaro deletou o vídeo de seu perfil.
SNAPCHAT
Mark Zuckerberg, dono do Facebook, tentou comprar o Snapchat, aplicativo de fotos e vídeos que desaparecem, mas levou um sonoro não de Evan Spiegel, jovem fundador da plataforma. Sem se abalar, Zuckerberg colocou seu time para trabalhar e meses depois, em agosto de 2016, lançou o Instagram Stories, ferramenta que basicamente emula o Snapchat, mas dentro do Instagram. Com o tempo, foi atraindo mais e mais gente, até que um dia a top celebrity Kylie Jenner, que hoje possui 28 milhões de seguidores, escreveu a seguinte mensagem:
“Então, ninguém mais usa o Snapchat ou sou só eu? ugh isso é tão triste”.
Kylie Jenner era uma das principais influenciadoras no Snapchat. Sua postagem de fevereiro de 2018 levou a uma queda de US$ 1,6 bilhão no valor de mercado da empresa. As ações retornaram ao preço inicial de oferta.
O Snapchat já vinha na descendente desde agosto 2017, quando o Stories começou a decolar. Mas o baque após a rasteira dada por Kylie Jenner ainda não foi totalmente recuperado, embora no ano de 2019 uma luz no fim do túnel seja vista. A empresa ganhou usuários e suas ações tiveram alta.
É bom não comemorar antes de fechar o ano, no entanto. Nunca se sabe qual será o próximo tuíte.
ELON MUSK
O empresário sul-africano Elon Musk, radicado nos Estados Unidos, merece um capítulo a parte. Dono da Tesla e da SpaceX, é um dos empreendedores mais ousados e arrojados do mundo. Inclusive no Twitter.
Primeiro, em julho de 2018, ele chamou de “pedófilo” um dos mergulhadores que ajudavam no resgate do treinador e dos 12 meninos presos em caverna na Tailândia, evento que atraiu atenção do planeta. O tuíte foi feito após o mergulhador ter dito que a proposta do Musk de usar um minissubmarino no resgate se tratava de “golpe de marketing”. Musk pediu desculpas após a avalanche de críticas.
Mas esse está longe de ser o caso mais famoso do bilionário. Um mês depois, em agosto de 2018, Musk tuitou que está planejando tirar a Tesla, empresa automotiva e de armazenamento de energia com sede nos EUA, da bolsa de valores, ou seja, fechar o capital da empresa.
“Estou considerando transformar a Tesla em empresa privada a US$ 420. Financiamento assegurado”. Ele ainda respondeu a alguns comentários defendendo a ideia.
A Tesla até teve alta nas ações após a publicação. Porém, Musk viveu meses de dor de cabeça por causa desse tuíte.
Primeiro, vários investidores apresentaram reclamações contra o empresário por considerar o anúncio “fraudulento e enganoso”. Membros do conselho da Tesla já vinham pedindo que ele não falasse sobre o acordo nas redes sociais. A avaliação foi de que Musk buscava provocar uma turbulência no mercado financeiro.
Depois, os eventos deflagrados pela mensagem de Musk deram origem a uma investigação federal. A Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, agência reguladora do mercado de capitais, abriu um procedimento para investigar se de fato Musk pretendia fechar o capital da companhia e se divulgou a notícia em primeira mão pelas redes sociais, em vez de usar as fontes oficiais —o que poderia ser considerado uma violação da legislação americana de 1934.
RACISMO
O Twitter também é prova de que um post pode arruinar uma carreira. Ainda mais se a mensagem for considerada racista, homofóbica ou conter qualquer outro tipo de preconceito. Foi o que aconteceu com o youtuber Júlio Cocielo, que tinha mais de 16 milhões de seguidores em seu canal em junho de 2018.
Nas oitavas de final da Copa do Mundo da Rússia, o atacante francês Kylian Mbappé fez um gol histórico contra a Argentina ao arrancar do campo de defesa e terminar com a bola no fundo das redes. Cocielo tuitou:
“Mbappé conseguiria fazer uns arrastão top na praia jein”. Ele apagou a postagem logo em seguida e pediu desculpas. Em resposta aos seus seguidores, o youtuber afirmou ter feito a piada devido a agilidade do craque francês.
“Se fosse o Griezmann no lance do pênalti eu diria o mesmo, eu apenas pensei na questão da velocidade, nada além disso, entende? podia ser minha mãe correndo daquele jeito que eu diria o mesmo HAUAHAUAHAUAH”, disse.
O fato levou grandes marcas a encerrarem contratos de patrocínio com Cocielo. A marca de material esportivo Adidas, o banco Itaú e a varejista virtual Submarino confirmaram à época ter deixado de patrocinar o influenciador.
Tudo isso ainda levantou outra questão. Nos mais de 50 mil tuítes que Cocielo acumulara na rede social, havia dezenas de mensagens parecidas, com tom preconceituoso. As marcas precisam conhecer melhor aonde estão colocando seu dinheiro.