Análise: Twitter aposta alto ao lançar fleet, um Stories para chamar de seu

Neste março de 2020, o Twitter completa 14 anos de existência.

Nesse período, a rede social de Jack Dorsey passou por mudanças substanciais. Dá para elencar algumas:

  1. em 2011, começou a permitir upload direto de fotos na plataforma, sem necessidade de sites externos como o Twitpic
  2. em 2017, chocou usuários ao permitir 280 caracteres em cada tuíte, dobrando o número antigo (e clássico) de 140 caracteres
  3. ainda em 2017, passou a permitir encadeamento de tuítes (as threads ou fios), de forma a permitir que “textões” surgissem na rede social

Outras mudanças mais corriqueiras envolvem layout, design e disposição da página.

Nesta quarta (4), no entanto, o Twitter iniciou testes de uma de suas mais profundas apostas: o fleet.

A grosso modo, trata-se de um Stories do Twitter, e permitirá que publicações desapareçam após 24 horas no ar, além de ter destaque na parte superior da plataforma em ícones redondos.

Os fleets podem ter imagens, vídeos ou GIFs, mas a ideia do Twitter é que os usuários priorizem textos, o que estimula conversas e diferencia a ferramenta dos Stories do Instagram. A novidade estará disponível nos próximos dias, em aplicativo nos celulares Android e iPhone (iOS).

A história do Stories remete ao Snapchat, rede social surgida em 2011 que virou febre nos anos seguintes. O Snapchat inovou ao apostar nesse formato de conteúdo efêmero. O mundo das redes se tornava mais líquido do que nunca.

Em 2016, o Instagram copiou descaradamente o Snapchat e lançou o Instagram Stories. Mark Zuckerberg ainda lançaria o Facebook Stories e o WhatsApp Status. Todos têm centenas de milhões de usuários ativos por dia no mundo.

Num primeiro momento, Zuckerberg e companhia foram cancelados por fazer uma cópia barata do Snapchat. Poucos meses depois, a jogada se mostraria certeira, com o Instagram Stories crescendo vertiginosamente e o Snapchat desabando paulatinamente.

Poucas horas após o lançamento, o Twitter também foi cancelado.

O “RIP Twitter” teve até o final da noite de quarta mais de 80 mil postagens.

Com anos de atraso, o Twitter entra na era dos Stories com seu fleet. Por enquanto é só uma fase de testes e o Brasil é o único país do mundo a contar com a novidade.

“É um dos países em que as pessoas mais conversam no Twitter; os brasileiros costumam seguir uns aos outros e são muito engajados e participativos em conversas, tanto do lado de produção quanto de consumo de conteúdo no Twitter. Por isso, é um bom lugar para testarmos essa nova forma de expressão e entender como as pessoas a utilizam e qual é a sua percepção sobre o recurso”, escreveu Mo Al Adham, gerente de produto do Twitter.

E por que apostar nesse formato agora?

“Algumas pessoas dizem que sentem-se inseguras ou desconfortáveis em tuitar o que lhes vem à cabeça porque tuítes são permanentes e exibem contagens públicas de engajamento. Em uma pesquisa inicial, as pessoas nos disseram que se sentem mais à vontade para compartilhar pensamentos corriqueiros e cotidianos em postagens que não são permanentes – e não exibem essas métricas. Esperamos que elas usem fleets para falar das reflexões que vêm à sua cabeça com menos preocupação e mais controle. Esse é o nosso objetivo com o novo formato, e é isso que vamos observar se acontece.”

O formato Stories dominou a década de 2010, principalmente a partir de sua segunda metade. Mas estará o modelo apto a sobreviver por muito tempo? Terá o Twitter apostado tarde demais?

Como tudo em redes sociais é instável e depende de fatores fora de qualquer previsão, resta apenas esperar.

Usuários fiéis de uma plataforma não costumam gostar de mudanças bruscas. Esse é um dos motivos apontados para o fim do Orkut, que passou a lançar novidades constantes que desfiguraram o ecossistema original.

Ao mesmo tempo, apesar de gritarias e reclamações, várias das mudanças do Twitter (como 280 caracteres e threads) acabaram sendo incorporadas naturalmente no dia a dia dos usuários e hoje é impossível vê-lo sem as aplicações.

De qualquer forma, é bom o Twitter estar preparado para passar os próximos meses sendo cancelado diariamente, pois os usuários da plataforma são profissionais em anular o que não gostam.