Piada nas redes diminuiu à medida que coronavírus passou de surto para pandemia

Mateus Camillo

Imagine um cenário de apocalipse: um asteroide colidindo com a Terra ou uma invasão alienígena que nos escravizasse.

Em qualquer uma dessas hipóteses, desde que conseguíssemos saber com alguns dias de antecedência, tem-se uma certeza: os memes invadiriam as redes sociais.

É mais ou menos isso o que está acontecendo com a crise do coronavírus.

Desde o início do surto, que virou epidemia e agora pandemia, há dois movimentos simultâneos, porém opostos, nas redes sociais: de pânico e medo de um lado, e de memes e piadas, do outro.

Como um estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) mostrou no final de fevereiro, 34% das menções nas redes sociais dos brasileiros sobre coronavírus eram irônicas ou bem-humoradas, contra 10% de postagens preocupadas.

Há um aspecto interessante, contudo, que faz decrescer as piadas e elevar os posts sérios. Chama-se proximidade.

Conforme o novo coronavírus saía de Wuhan, na China, e desbravava o mundo ocidental, o clima de apreensão aumentava nas nossas redes sociais.

Em 21 de janeiro, quando foi confirmado o primeiro caso nos EUA, houve apenas 13 mil tuítes no Brasil sobre o assunto, sendo 50% das menções mais positivas e 50% negativas, segundo dados da Sprinklr, plataforma unificada para gestão de canais digitais. Por positivo, entenda-se mais leves ou bem-humoradas e negativo as mais preocupadas.

Em 25 de fevereiro, na noite de terça-feira de Carnaval, confirmou-se o primeiro caso de coronavírus no Brasil, um empresário de São Paulo que havia voltado da Itália. Como foi no final do dia, a análise se baseia em 26 de fevereiro. Foram 665.598 postagens, com 70% de menções negativas, ante 30% positivas.

Na quarta (11), quando a OMS (Organização Mundial de Saúde), decretou estado de pandemia,  foram 707,550 mil menções no Twitter referente ao coronavírus, sendo 75,5% das menções negativas. Todos os números são da Sprinklr.

Note-se como a proporção de menções negativas passou de um patamar de 50% para 75,5% conforme se aproximava de nossa realidade.

E esse número tende a aumentar à medida que mais casos forem confirmados no Brasil (por enquanto, são mais de 100) e quando (se) o país registrar sua primeira morte.

Sobre piadas e medos, é preciso analisar os dois lados da moeda.

O pânico generalizado não leva a nada. Sabemos que a taxa de letalidade da doença está atualmente em 3,7%, com 5.088 mortos de um total de 137 mil pessoas que contraíram a doença . É uma cifra maior que a do sarampo —2,2%— , e bem menor que a do ebola —51%. A gripe, por exemplo, tem uma taxa de letalidade bem mais baixa, de 0,1%, mas é preciso considerar que o número de infectados é muito maior, de dezenas de milhões de indivíduos. Em 2009, quando se propagou a chamada gripe suína, estima-se que 200 mil pessoas tenham morrido.

Se não é para ter pânico e sair estocando comida como se fôssemos um personagem de José Saramago, também não podemos descuidar dos cuidados básicos. Seguir os principais protocolos de prevenção ainda é a medida mais eficaz, como lavar bem as mãos e evitar contato estreito com pessoas portadoras de sintomas respiratórios e febre.

Ao mesmo tempo, rir da situação e rir de nós mesmos pode até fazer bem. Por isso os memes fazem tanto sucesso mesmo em períodos apreensivos. Mas é preciso saber quando termina o humor e em que momento começa a piada xenófoba, por exemplo.

O #Hashtag separou alguns exemplos para descontrair nesse momento. Lembre-se de sempre lavar as mãos e evitar áreas de aglomeração até novas recomendações das autoridades.

Einstein, um imortal

Bolsonaro, que num primeiro momento disse que o coronavírus era fantasia, fez sua live semanal usando máscara e virou personagem do clássico game de luta Mortal Kombat.

E essa corrente sobre o Tom Hanks, que foi uma das primeiras celebridades cujo diagnóstico de coronavírus foi confirmado?

“Tom Hanks sobreviveu a 4 anos em uma ilha como náufrago
Ficou um ano em um aeroporto sem poder sair
Pegou AIDS na Filadelfia
Esteve na Segunda Guerra Mundial e resgatou o Soldado Ryan;
Foi pro Vietnam e resgatou o tenente Dan
Esteve em um barco sequestrado por piratas somalíes
sobreviveu na Apolo 13 tentando chegar a Lua
Aterrizou um Boeing no Rio Hudson✈
Se esse filho da puta morrer de coronavirus , nós TODOS estamos fo-di-dos !!!”

O chefe da comunicação de Bolsonaro, Fábio Wajngarten, está com coronavírus. Ele esteve com Bolsonaro e Trump em viagem aos EUA recentemente. O presidente fez o teste e o resultado deu negativo. Mas algumas piadas da relação de Bolsonaro com o vírus ficarão eternizadas:

Um tuíte famoso de Carlos Bolsonaro foi transformado na versão “coronavírus”.

Eis a postagem original, de 2015, que falava sobre o ex-presidente Lula.

O coronavírus fez as bolsas pelo mundo terem a pior semana desde a Grande Recessão, em 2008. Os dias de pânico global, no entanto, valorizaram a cotação dos memes.

Como os operadores do mercado estavam trabalhando na avenida Faria Lima (centro financeiro de São Paulo, conhecido como Condado).

Depois de uma semana com quatro circuit breaker (quando as negociações são interrompidas na bolsa), qualquer estagiário virou profissional. Parabéns pelo certificado.

Com um agravante: estamos em plena sexta-feira 13.

E com Prior na liderança do BBB, mais uma assombração, segundo os internautas.

Quem não se deu bem com o agravamento da crise foi a dupla que carrega dois nomes temidos ultimamente: os palhaços Atchim & Espirro. Shows foram cancelados segundo memes que circulam no WhatsApp.

Enquanto isso, veja como o mundo está normal lá fora.

Tudo certo nos aeroportos.

Tudo certo nos passeios com cachorros.

Tudo certo com os passeios com gatinhos.

Tudo certo nos supermercados.

Tudo certo no metrô.

Lembrando: quem estiver com sintomas de coronavírus tem que ficar em quarentena. Não o diretor, Quentin Tarantino.

É isso, pessoal. Espero que tenha dado pra se divertir um pouco com esse post. Não se esqueçam: cuidado para não compartilhar fake news. Veja algumas dicas para evitar disseminar conteúdos falsos.