Capa de jornal de 1937 em que Mussolini falava em armar a Itália é relembrada nas redes

Na fatídica reunião ministerial de 22 de abril, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendeu armar toda a população como reação a atitudes de governadores e prefeitos nos esforços de controle da pandemia.

“É escancarar a questão do armamento aqui. Eu quero todo mundo armado! Que povo armado jamais será escravizado. Eu quero, ministro da Justiça e ministro da Defesa, que o povo se arme! Que é a garantia que não vai ter um filho da puta aparecer pra impor uma ditadura aqui! Que é fácil impor uma ditadura! Facílimo!”

“Por que eu estou armando o povo?”, acrescentou. “Porque eu não quero uma ditadura. E não dá pra segurar mais. Não é? Não dá pra segurar mais.”

Pois bem, usuários das redes sociais recuperaram uma capa do jornal carioca Correio da Manhã, de 12 de agosto de 1937, cuja manchete é: “Mussolini diz que só um povo armado é forte e livre”.

O influenciador Felipe Neto, um dos principais opositores ao governo Jair Bolsonaro, escreveu: “A estratégia é velha”.

O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) foi taxativo. “Esse é um dos motivos de chamarmos Bolsonaro de fascista”.

É importante, no entanto, ressaltar algumas diferenças entre o que disse Mussolini e Bolsonaro.

A Europa vivia o período entre guerras (de 1919 a 1938), de forte apelo militar. A própria capa do jornal Correio da Manhã registra o restante da fala do ditador italiano realizada no dia anterior em comício na Sicília.

“A história nos mostra que quando um povo não quer sujeitar-se a utilizar-se de sua arma, acaba sendo obrigado a aceitar de imposições de qualquer outro. A história também mostra que o povo italiano não é guerreiro, mas que não tem outra alternativa senão a miséria e a escravidão.”

No fim do discurso, completou. “Quando falamos em povo, queremos significar o Estado, porque só o Estado representa os interesses do povo através das gerações.”

O ditador foi ovacionado.

Ele referia-se, portanto, a armar o Estado, enquanto Bolsonaro quer armar o povo para lutar contra “ditaduras internas” de decretos de governadores e prefeito pelo isolamento social. Ademais, o Brasil não vive um contexto bélico, exceto a guerra sanitária contra o coronavírus –combate, aliás, negligenciado pelo governo brasileiro.

A semelhança com discursos extremistas, porém, é inegável e não para na Itália fascista dos anos 30.

A Venezuela bolivariana dos ditadores Hugo Chávez e Nicolás Maduro –tão criticada por bolsonaristas– também fala em armas o tempo todo.

Em 2006, seu oitavo ano de mandato, o então presidente venezuelano Hugo Chávez (1954-2013) afirmou que se deveriam armar 1 milhão de venezuelanos.

O objetivo de ter a população armada, segundo disse o ditador, era defender o país contra uma suposta invasão dos Estados Unidos.

“A Venezuela precisa ter 1 milhão de homens e mulheres bem equipados e bem armados”, disse o líder esquerdista em uma manifestação em fevereiro daquele ano, após ter negociado a importação de 100 mil fuzis da Rússia e fechar acordo bilionário com a Espanha para a compra de equipamentos militares.