Numa internet jurássica, ‘Tapa na Pantera’ foi um dos primeiros vídeos virais do Brasil

Em uma internet jurássica perto da de hoje, um vídeo estrelado pela atriz Maria Alice Vergueiro, que morreu nesta quarta-feira (3), aos 85 anos, viralizou em uma época que viralizar ainda nem tinha o significado atual.

“Depois, dizem que maconha vicia. Eu fumo há 30 anos, todos os dias, não pulo nenhum, e não estou viciada”, diz a personagem interpretada pela atriz Maria Alice Vergueiro no curta metragem de humor “Tapa na Pantera”, em que a protagonista discorre num monólogo sobre sua relação com a maconha de forma cômica.

Dirigido por Esmir Filho, Mariana Bastos e Rafael Gomes, foi produzido para participar de festivais de curtas em São Paulo e Gramado (SP), mas acabou publicado no YouTube sem autorização dos produtores –um golpe do destino, pois ninguém se recordaria do vídeo se não fosse esse acaso.

A peça ficcional é cheia de pérolas que viraram bordões por anos na internet brasileira numa época em que Orkut e MSN eram as principais ferramentas e o YouTube, surgido em 2005, ainda engatinhava como principal player de vídeo do mundo –em outubro de 2006 o Google compraria a plataforma.

Até então, o que geralmente viralizava eram cenas engraçadas da televisão, como a inesquecível entrevista do sanduíche-iche-iche.

O mérito do Tapa na Pantera esteve em uma produção bem feita, com uma personagem arquetípica (uma madame rica maconheira progressista), interpretado por uma atriz talentosa com um timing perfeito do início das redes sociais.

Quem era novo demais ou velho demais em 2006 talvez não se lembre, mas o vídeo inaugurou a era viral no país. Na escola, na faculdade ou no trabalho, a performance da senhora maconheira foi assunto por semanas. Foi um trending topic antes de ser cool.

Obviamente, o legado para o teatro brasileiro da dama do underground ou ainda a velha dama indigna, conhecida por seu despudor e suas atuações performáticas, seria o mesmo se não fosse o “Tapa na Pantera”.

Mas é inegável que sua participação nessa obra-prima do humor nacional fez seu nome ganhar uma projeção maior num palco novo e com uma audiência jovem, a internet.

Confira a íntegra do vídeo original, que conta mais de 8 milhões de visualizações –número que parece baixo mas era bastante significativo para o período.

 

São incontáveis os trechos memoráveis em apenas 3m34s.

“Eu acho que eu não faço apologia da maconha, quem quiser fuma, quem não quiser não fumar.

“Claro, eu fumo um cachimbo, porque o que faz mal é o papelzinho”

“Tapa na pantera, como a gente chama, tá tudo quieto, de repente, dá um tapa na pantera, a pantera começa a perceber coisas que o mundo real não percebe”

“Dizem que afeta a memória, que você começa num assunto e acaba no outro, de vez em quando me dá um branco assim… você fica…. de repente você fica…. tem assim…. uma coisa de…. você vai, entende, você vai… depois… você se pergunta a si mesmo… pra onde eu vou ir? hahahaha”

“Eu sinto que minha memória anda meio esquisita, quero lembrar uma palavra, esqueço, de repente esqueço onde estou, um dia desses esqueci meu nome, me chamavam Helena, eu olhava, será que sou eu? aí eu peguei minha carteira de identidade, aí me reconheci, Maria Alice, e fui ao médico, claro. O médico começou a tomar nota e perguntou desde quandoa senhor está sentindo isso, eu falei “desde quando a senhora está sentindo isso?”, “isso o que doutor?” e saí de lá sem saber o que era isso”.

“Fumo aqui, e tomo um chá, fumo aqui, e tomo um chá, fumo aqui, e tomo um chá”.

“Todas as vezes que eu fumo, ou seja, todos os dias da minha vida, eu dou risada, ou seja, eu sou uma pessoa feliz, a risada é sem dúvida um grande radar”.

“Será a erva que me faz feliz ou eu já tinha uma tendência à felicidade?”.

Colaborou: Marina Lourenço