FaceApp viraliza de novo ao mudar gênero do usuário, mas pode ser usado para falsificar identidades
A brincadeira de se ver com cabelos longos e sobrancelhas desenhadas ou com barba e bigode fez o aplicativo FaceApp bombar mais uma vez nas redes sociais. Agora, os usuários têm de forma gratuita a opção de aparecer com traços que sugerem a troca de gênero.
A nova onda, entretanto, pode trazer à tona novamente problemas do passado. Empresas de tecnologia consultadas pela Folha alertam sobre ameaça de privacidade e também sobre uso indevido dos dados por pessoas de má-fé, que podem tentar fraudes a partir das fotos.
Segundo os especialistas, não é possível identificar itens maliciosos no FaceApp. Mas o fato de o reconhecimento facial ser uma tecnologia usada também para a autenticação de senhas exige cuidado redobrado do usuário ao compartilhar sua imagem.
Com o crescimento do mercado da inteligência artificial, a empresa dona do aplicativo pode utilizar a tecnologia para vender fotos dos usuários a outras empresas do segmento, diz Fabio Assolini, analista sênior da empresa de segurança Kaspersky.
“Também é preciso ter consciência que esses dados estão armazenados em servidores de terceiros e que podem ser roubados por cibercriminosos para a falsificação de identidades”, alerta.
A empresa russa Wireless Lab é responsável pelo FaceApp. O termo de política de privacidade do aplicativo garante que não utiliza as fotografias para qualquer fim que não o de fornecer a funcionalidade de edição dos retratos. Informa também que usa os provedores de nuvem terceirizados Google Cloud Platform e Amazon Web Services para processar e editar as fotos.
No termo, o aplicativo descreve, entretanto, que os dados pessoais dos usuários poderão ser acessados por prestadores de serviço da empresa em outros locais fora de seu estado, província ou país.
O FaceApp não garante de forma objetiva a privacidade do usuário porque não explicita no termo como e com quem os dados poderão ser compartilhados, de acordo com Nathalie Fragoso, que coordena a área de vigilância e privacidade do InternetLab, centro de pesquisa de direito e tecnologia. Ela aponta também que o rastreio de informações pode ser usado para influenciar os usuários sem que eles tenham conhecimento.
“Há riscos associados à construção de perfis comportamentais que expõe o usuário a toda sorte de propaganda dirigida ou vazamento de dados, colocando-o em posição de vulnerabilidade”, afirma Fragoso. “Isso pode fazer com que o consumidor seja manipulado sem perceber”.
De acordo a política de privacidade do aplicativo, o FaceApp pode monitorar páginas e sites navegados pelo usuário, incluindo o tempo gasto em cada uma delas.
Além disso, Fragoso lembra que a tecnologia pode aumentar a chamada deep fake, que usa inteligência artificial para criar vídeos falsos, mas que parecem realistas, de pessoas fazendo coisas que elas nunca fizeram.
Negar as permissões solicitadas pelo aplicativo, como sincronização às contas das redes sociais já existentes, é uma maneira que o usuário tem de se proteger, ainda que de forma limitada, contra a invasão de privacidade, diz Fragoso.
A Wireless Lab já foi investigada nos Estados Unidos pelo FBI (o Departamento Federal de Investigação). O órgão se mostrou reticente sobre a veracidade do que a empresa diz fazer.
Ainda assim, de tempos em tempos o aplicativo ganha os holofotes dos usuários nas redes. No último final de semana, o FaceApp voltou a bombar após a liberação gratuita do filtro mudança de gênero. A novidade gerou até a hashtag “faceappchallenge” e recebeu centenas de milhares de compartilhamentos no Facebook e no Instagram.
O FaceApp caiu no gosto do público pela primeira vez em 2018. Além da mudança de gênero, o aplicativo também transforma seus usuários também em crianças e idosos.