Relatório inédito do Google no Brasil mostra tendências de usuários de smartphones no país

O Google divulgou nesta segunda-feira (21) seu primeiro relatório no Brasil sobre Impacto Econômico e Social do Android, o sistema operacional da empresa lançado há 12 anos. O estudo foi feito pela consultoria americana Bain&Company, que possui 59 escritórios em 37 países, incluindo o Brasil, em parceria com o Google.

Os dados são de 2019, ou seja, pré-pandemia, portanto algumas tendências podem ter sofrido alterações nos últimos meses. Foram entrevistadas 4.653 pessoas por meio de um questionário online.

O relatório mostra que o Android é o sistema operacional mais usado no país: 9 em cada 10 pessoas com smartphones possuem um aparelho com esse sistema operacional, o que faz do Brasil um dos cinco maiores mercados no mundo.

O estudo mostrou que o mobile first é uma realidade. Atualmente, 97% dos usuários acessam a internet no Brasil por meio de um smartphone. A porcentagem dos que navegam exclusivamente por celulares é de 51%, sendo que nas classes D e E esse índice é ainda mais significativo, de 83%.

Neste estudo, para definir as classes sociais, foi usado o Critério Brasil, que mede o poder de compra das pessoas com base em diversas perguntas sobre o domicílio (número de banheiros, TV, etc).

Quanto mais novos os participantes do estudo mais mobile first eles são. Dentre os usuários menores de 18 anos, 63% acessam a internet exclusivamente por meio de smartphone, enquanto nas pessoas acima de 40 anos essa taxa cai para 45%. No entanto, a tendência é que mesmo os mais velhos usem cada vez mais smartphones, fenômeno que ganhou impulso na última metade da década de 2010.

Com a pandemia e o aumento do home office e do homeschooling, é possível, porém, que esse número não cresça no mesmo ritmo, pois o acesso via desktop ainda é mais eficiente para essas duas tarefas realizadas a distância.

Os smartphones influenciam os hábitos de consumo dos brasileiros. O relatório mostra que cerca de 36% dos usuários de smartphone contratam serviços de assinatura como Netflix, Amazon Prime, Spotify,
Deezer e Globoplay, dentre outros.

Em relação à compra online de produtos por meio de smartphones, usuários digitalmente mais experientes compram com mais frequência e gastam um valor cerca de 5,5 vezes maior nessas transações quando comparados a usuários recentes. Quando se faz o recorte por classes sociais, registra-se a mesma tendência.

Segundo o relatório, nos últimos 5 anos, 24 milhões de brasileiros foram introduzidos à internet por meio de um dispositivo Android. Um dos principais motivos é a competitividade desses aparelhos no mercado. Hoje, 80% das pessoas das classes D e E pagam menos de R$ 1 mil por um smartphone no Brasil. A parcela da população brasileira conectada à internet saltou de 41% em 2010 para 70% em 2018.

O valor médio desembolsado em um Android é de R$ 1.091, enquanto gasta-se em média R$ 2.513 para um iOS, mais que o dobro.

O Google se vangloria por ter um sistema operacional aberto e gratuito, o que possibilita que diversos fabricantes desenvolvam uma ampla gama de aparelhos com capacidade, funcionalidade e faixas de preço diferentes. O principal concorrente, o iOS, da linha iPhone, da Apple, é conhecido por ser sistema operacional fechado, o que, por um lado, oferece maior segurança, mas, por outro, restringe o surgimento de novas ferramentas.

O mercado Android é vasto e comporta desde modelos mais sofisticados, com preços que chegam a R$ 8 mil, até modelos produzidos em território nacional para o usuário que deseja uma experiência de conexão mais simples, com preços de R$ 250. São exemplos a Positivo e a Multilaser.

Esse aumento do uso também ocorreu de forma geográfica. Em 2010, o Sudeste possuía 47% de sua população conectada, enquanto o Nordeste respondia por apenas 28%, uma diferença de 19 pontos percentuais. Já em 2018 a discrepância caiu para 11 pontos percentuais, com o Sudeste tendo 75% de sua população com acesso à internet, enquanto no Nordeste 64% dos habitantes estavam conectados.

Nas classes sociais D e E, apenas 13% das pessoas acessavam a internet em 2010. A partir de 2013, esse índice começou a mudar, e, em 2018, 48% das pessoas dessa classe estavam conectadas.

O sistema operacional aberto ajuda a criar um ecossistema colaborativo entre seus integrantes, motivo que é apontado como o principal por 83% dos desenvolvedores na hora de escolher em qual sistema operacional criar um novo produto.

A transformação digital que vem se acelerando nos últimos anos irá trazer benefícios na redução da carga burocrática  de um cidadão. Segundo o relatório, quase 60% dos usuários utilizam o smartphone para ter acesso a serviços públicos. Documentos oficiais como carteira de trabalho, carteira de motorista e CPF, por exemplo, já podem ser utilizados de forma digital com o smartphone.

No momento, existem mais de cem aplicativos de diversos órgãos do governo voltados a facilitar o uso de serviços públicos. Um deles é o Viva Bem, lançado pelo Ministério da Saúde para ajudar na rotina do paciente que faz uso contínuo de medicamentos. Na educação, o EduCapes, dá acesso a um vasto acervo de textos, livros, videoaulas e outros objetos de aprendizagem.

PANDEMIA

O relatório procurou contemplar os novos hábitos adotados durante a pandemia de coronavírus e o uso do smartphone no período. Por isso, foi realizada pesquisa online em julho de 2020 com 1.658 consumidores brasileiros, incluindo uma diversidade de respondentes em termos de gênero, classe social, região e idade. A amostra
foi rebalanceada e extrapolada com base em dados demográficos para refletir os consumidores brasileiros. A mesma pesquisa foi realizada em abril, maio e junho de 2020 com outros grupos de respondentes e apontou resultados e tendências semelhantes.

O resultado é previsível e indica que a frequência e a diversidade de usos do smartphone cresceram: 70% dos consumidores afirmam ter aumentado o tempo gasto no smartphone desde o início da pandemia. Mais de 60% dos consumidores intensificaram o uso de redes sociais como YouTube, Facebook, Instagram, WhatsApp e TikTok.

Logo no começo do isolamento social, o número de lives estourou. Pela primeira vez, 46% dos consumidores assistiram a uma live em seu celular. Essa nova atividade foi experimentada por pessoas de diferentes idades, e não apenas pelo jovens.

A importância de compras online cresceu significativamente. Durante o período de quarentena, 34% dos consumidores brasileiros fizeram seu primeiro pedido de delivery de comida via app. Quem já usava passou a gastar mais: 11% dos consumidores relataram aumento.

Pessoas que utilizaram apps como iFood, Rappi e Cornershop tiveram, de forma geral, uma boa percepção da sua experiência. Isso indica que a utilização desse tipo de serviço tende a continuar após a pandemia, o que deve também agravar os protestos de entregadores devido à precarização do serviço.

Pagamentos móveis também cresceram rapidamente: 44% dos consumidores contaram ter tido sua primeira experiência bancária online, sendo que 72% destas foi graças ao smartphone. A adoção desse hábito se destaca nas classes sociais mais baixas: 53% dos consumidores de baixa renda usaram o serviço de banking online pela primeira vez durante a pandemia, enquanto na alta renda o percentual é de apenas 28%. Possivelmente essa diferença se dá porque os ricos já utilizavam o recurso.

Serviços essenciais como educação e saúde também tiveram incremento no uso digital . Desde o início da pandemia, 28% dos consumidores participaram de seu primeiro curso online e 17% fizeram sua primeira consulta médica virtual por meio de smartphone.

O smartphone teve papel importante na vida de pessoas cuja renda foi impactada pela pandemia: 32% dos consumidores afirmam ter começado a usar o smartphone como meio de suplementar a renda. Vendas de produtos em redes sociais ou sites especializados, aulas online e aplicativos de entrega são alguns dos exemplos mencionados.

IMPACTO ECONÔMICO

No Brasil, segundo relatório da Bain&Company, o ecossistema do sistema operacional Android contribuiu para a geração de uma receita estimada de R$ 136 bilhões em 2019 em empresas diretamente envolvidas ao Android, associadas às indústrias de hardware, software e conectividade, o que representa aproximadamente 2% do PIB brasileiro de 2019.

Ainda de acordo com o estudo, estima-se que 630 mil empregos estão nesta cadeia direta e indireta do Android, o que equivale a aproximadamente 35% dos trabalhadores na indústria de tecnologia e telecomunicações.

Desde 2002, quando a Blackberry lançou o primeiro smartphone do mercado brasileiro, o número de fabricantes saltou para 13, que vendem 50 milhões de dispositivos por ano (3% do total mundial, 56% do total da América do Sul).

PROBLEMAS
Vale lembrar que a série de benefícios que o aumento da conectividade traz não esconde os riscos da tecnologia, como a crescente circulação de desinformação, bullying virtual, crimes de racismo e ódio, dentre outros. Todas as big techs (Google, Facebook, Amazon, Apple, Twitter) enfrentam esse dilema e precisam investir cada vez mais em soluções para evitar que governos autoritários e pessoas má intencionadas explorem essas lacunas no sistema.