Nas redes sociais, torcida pressiona Santos a desistir de Robinho

Matheus Moreira

Robinho, jogador de futebol brasileiro, foi condenado, em 2017, a nove anos de prisão na Itália por violência sexual. Deste lado do oceano, no último dia 10 de outubro, o Santos anunciou o terceiro retorno do jogador ao clube para disputar o Brasileirão e agora enfrenta as consequências. O jogador, apesar de contratado, ainda não pode jogar pelo time, pois seu retorno demanda votação do conselho deliberativo do clube.

A decisão está marcada para ser divulgada na quarta (21), mas o conselho tem sofrido pressão de patrocinadores  para que desfaçam o negócio. Cinco empresas (Philco, Kicaldo, Kodilar, Tekbond e Casa de Apostas) afirmam que só manterão patrocínio caso a contratação seja desfeita.

A rede de franquias de ortodontia e estética Orthopride foi além e anunciou na quarta (14) o rompimento do acordo com o Santos. O clube recebia cerca de R$ 2 milhões da empresa todos os anos desde 2018.

Nas redes sociais, torcedores do clube, dos rivais e até mesmo aqueles que não são tão afeiçoados ao futebol pedem que o Santos demita Robinho. O movimento Bancada das Sereias, de torcedoras santistas, afirma, em nota, que “dói na alma” assistir ao retorno do jogador. “O Santos regrediu em uma luta de anos e só nós sabemos o quanto perdemos”, escreveu o coletivo.

A hashtag #RobinhoOut está entre os destaques do Twitter e tem sido utilizada, principalmente, por aqueles que pedem a demissão do jogador. Em todas as postagens do clube em perfis oficiais nas redes sociais, a maioria das respostas são cobranças de seguidores para que o clube volte atrás na decisão.

Nesta sexta (16), reportagem do globoesporte.com (GE) revelou interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça italiana que foram consideradas fundamentais para a condenação do jogador.

Robinho e seu amigo Ricardo Falco foram condenados a nove anos de prisão, além de pagar indenização de 60 mil euros –os outros acusados foram considerados incontactáveis, eles deixaram a Itália, e o processo foi suspenso para eles. Entenda o caso.

Orlando Rollo, presidente do Santos, disse, em entrevista à Folha, que os santistas adoraram a contratação e que a reação negativa a volta de Robinho era “dor de cotovelo” de torcidas adversárias. Além disso, Rollo afirmou que a sentença não é definitiva, uma vez que não transitou em julgado (quando não cabe mais recursos). O processo será retomado em dezembro.

“Robinho não está condenado com trânsito em julgado. Quem somos nós para atirar pedra no Robinho? Atire a primeira pedra quem nunca pecou. E será que ele pecou? Vamos esperar o desfecho do processo”, disse.

Apesar do que diz o presidente, os torcedores, em especial do Santos, não parecem contentes com o retorno de Robinho. A situação piorou com a revelação da transcrição dos áudios interceptados pela Justiça da Itália.

Em agosto deste ano, o Santos fez uma campanha contra machismo e contra a violência doméstica. Agora, a internet cobra o clube para que tome uma posição que corresponda ao discurso de dois meses atrás.

O caso de 1987

Em 1987, quatro reservas do Grêmio estupraram uma menina de 13 anos em um quarto do Hotel Metropole, na Suíça. Eduardo Hamester, Fernando Castoldi, Henrique Etges e Alexi Stival foram presos. Os jogadores consideraram o abuso sexual de vulnerável uma orgia, mas para a vítima, foram 30 minutos de medo e de violência.

A lei suíça proíbe relação sexual consentida com pessoas com menos de 16 anos. O caso foi um escândalo. Grandes nomes do futebol e até mesmo embaixadores tentaram interceder. Enquanto isso, no Brasil, torcedores defendiam os jogadores.

Após 28 dias presos, os quatro jogadores voltaram ao Brasil, tendo assumido a culpa na Suíça. Foram recebidos como heróis por centenas de pessoas ao desembarcarem. Continuaram jogando no Grêmio sob pena de multa ao clube e todos os custos dos advogados.

Atualmente, Alexi Stival, conhecido como Cuca desde aquela época, é o treinador do Santos.

O caso voltou a ser discutido nas redes sociais e a imagem de progressismo e defesa da mulher que o clube buscava construir perde terreno com o passar das horas e a ausência de ação do Santos.