“E daí?”, diz o personagem Odorico Paraguaçu, prefeito da cidade fictícia de Sucupira, sobre o médico local não poder vacinar as pessoas durante uma epidemia. A cena é parte da novela O Bem-Amado, que foi ao ar em 1973 na TV Globo. Mas, se não houvesse contexto, o “E daí?” poderia ser confundido com a resposta do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) às mortes causadas pelo novo coronavírus.

Assista à cena:

No último dia 11 de dezembro, a jornalista e escritora Cristina Serra, também colunista desta Folha, dedicou alguns parágrafos a refletir sobre a novela, tanto a de 1973 quanto a atual, que a cada capítulo revela novas formas do presidente reagir às mortes e ao impacto da pandemia no país.

Não bastasse a semelhança acima, em poucos minutos de vídeo outra grande similaridade é vista.

Ao ser questionado por seu auxiliar, eternizado por Emiliano Queiroz, o prefeito Paraguaçu diz que irá imunizar a população, mas que o fará ao roubar a vacina trazida pelo médico e oponente político local. Paraguaçu diz, com todas as letras, que não deixará o adversário ser um herói. “Se há vaga para herói, é minha”, diz.

É difícil não lembrar dos embates vorazes entre o presidente e o seu provável adversário na corrida presidencial de 2022, João Doria (PSDB-SP). Doria e Bolsonaro transformaram a possibilidade de vacinar a população em um ativo político capaz de eleger o próximo presidente da República.

A coincidência das falas de Paraguaçu e Bolsonaro não passou despercebida nas redes sociais. No Twitter, usuários compartilharam a cena e refletiram sobre a semelhança. Confira seleção de tuítes.