Cursos sobre TikTok voltados para negócios seduzem profissionais que querem bombar no app
Aplicativo com mais downloads no mundo em 2020 (987 milhões), o TikTok estabeleceu-se como um dos gigantes das redes sociais, temido por Donald Trump, ex-presidente dos EUA, e por Mark Zuckerberg, dono do Facebook.
Nesse cenário, em que o aplicativo já não é mais tão novidade, mas seu funcionamento permanece um mistério para muita gente, alguns empreendedores vêm lançando cursos para quem quer aprender a usá-lo e crescer dentro dele.
Engana-se quem pensa que a rede só tem dancinhas ou vídeos infantis. A Academia de TikTokers, de Clarissa Millford, produtora audiovisual, e Diego Davoli, especialista em infoprodutos, é um exemplo disso e oferece um curso voltado para negócios.
“O objetivo da Academia, hoje, é capacitar nossos alunos para usarem o TikTok como uma ferramenta para expor seus produtos, serviços ou até mesmo só para aumentar sua autoridade digital”, conta a produtora.
O curso online orienta seus alunos com base na experiência de Clarissa, que auxilia no formato dos vídeos e produção, e de Diego, que indica maneiras de usar o sistema da plataforma a seu favor.
Letícia Christianini, uma das primeiras alunas, é psicóloga e hipnoterapeuta. Começou na plataforma repostando vídeos e Stories que já havia gravado para sua conta no Instagram.
“Acredito que eu devia estar já com uns 10 mil seguidores na época que comecei com eles. Através do TikTok, fui captando clientes para mim: as pessoas se identificam com o vídeo, se sentem acolhidas e consequentemente querem saber mais, entram em contato até por outras redes”, conta a terapeuta.
Hoje, Letícia está perto da marca de 500 mil seguidores na rede chinesa.
Paula Tebett, especialista em mídias sociais, é criadora de outro curso: TikTok para marcas e profissionais. Ele explica a plataforma para um público mais especializado: o da área de comunicação, que em meio à onda do aplicativo, tem buscado entender como entrar e se posicionar enquanto marca. Ainda assim, Paula lançou neste mês outra modalidade, desta vez voltada para os empreendedores individuais.
“A maioria das pessoas não tem condições de ter um profissional tomando conta das suas redes. Eles precisam aprender a divulgar seu negócio lá dentro. Será que eu preciso dançar? Será que eu tenho que fazer algo engraçadinho? Não, tem gente de cabelo branco, dermatologista, cardiologista, pessoal de marketing, que tá ali falando sério. A questão é: como eu começo, como eu faço isso?”
Segundo Paula, não existe fórmula mágica. O ponto é aprender as funcionalidades e estratégias que existem, para aí testar e entender o que funciona melhor para cada um.
Uma de suas clientes, Andreza Trivillin, é blogueira da Disney e revende ingressos dos parques de Orlando. Em sua conta no TikTok, ela posta vídeos de atrações e tem feito outros tipos de conteúdo, como dicas para quem mora nos EUA.
“Hoje, eu tenho mais seguidores americanos do que brasileiros, mas isso varia. Como no conteúdo de parques a imagem fala por si só, o público é muito pulverizado, atravessa fronteiras, tenho seguidores do mundo inteiro. Até agora, não consegui clientes diretamente pela plataforma, mas isso acontece muito por conta da pandemia e do fechamento das fronteiras americanas. Meu público sempre foi brasileiro, e eles não estão podendo vir”, conta a blogueira.
Os irmãos Deko e Peu Feitoza já estavam na plataforma desde os tempos em que ela ainda era o Musical.ly. A dupla participou da transição para o TikTok e também lançou em parceria com uma plataforma de work exchange (troca de trabalho por hospedagem ao redor do mundo), seu curso para iniciantes no TikTok, dando dicas de como usá-lo como trabalho nessas experiências de intercâmbio promovidas pelo site.
Sua conta, Se Liga Nos 15, tem mais de 900 mil seguidores no aplicativo chinês, enquanto no Instagram, onde começaram, têm por volta de 90 mil. Segundo os dois, a diferença não é coincidência.
“No TikTok, mesmo que você seja pequeno, você consegue bombar. O aplicativo te incentiva a produzir, te recomenda pros outros mesmo que você tenha poucos seguidores, o que importa é se você produz algo de relevante. É diferente do Instagram, que já está estabelecido, já se tornou uma rede muito comercial, em geral só quem já é grande consegue atingir esses números rapidamente”, disse Deko. Essa visão é um consenso entre os cursos.
“O TikTok não é uma rede social para você se conectar com seus amigos, ele é uma plataforma de interesses. Se você demonstrou que gosta de algum assunto específico, ele vai começar a te mostrar tudo que tem disponível sobre esse interesse, pouco importa de quem esse conteúdo seja ou sua localização. Dito isso, seu alcance orgânico é gigantesco”, conta Clarissa, da Academia de TikTokers.
Mas como é possível orientar os alunos sem uma referência exata de como funciona o algoritmo, sem contar suas variações?
Segundo Clarissa, a busca por informação é constante, seja via contato com a própria empresa, por cursos no exterior, ou criando grupos em que seus alunos se reúnem e trocam experiência. O mesmo vale para Paula e os irmãos Feitoza, que mantêm contato com o TikTok para entender suas funcionalidades e testam constantemente suas possibilidades.
O esforço da plataforma para ajudar e orientar seus próprios criadores, tanto em questões mais técnicas quanto em relação à sua visibilidade, também é um consenso entre eles. Ela acaba direcionando o público também para outras redes dos criadores e tem começado a gerar negócios com a inserção de marcas no mercado.
“Na Academia, já temos 12 alunos contratados por empresas internacionais. Lá fora, as coisas já estão mais evoluídas, então já contrataram criadores de conteúdo brasileiros para introduzir produtos nacionalmente”, reforça Clarissa.
Assim, o TikTok vem tentando deixar para trás o estereótipo infanto-juvenil que ainda carrega e começa a se estabelecer como uma plataforma também de negócios e outros tipos de conteúdo, assim como seus antecessores Instagram, Facebook e YouTube, que já rendem muitos cursos para quem quer crescer no ambiente digital.