Usuários pedem suspensão de contas de Bolsonaro e Eduardo após divulgação de suposta carta de suicida
O presidente Jair Bolsonaro e o seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), publicaram na noite de quinta (11) e na manhã desta sexta (12) a suposta carta de um suicida, o que fere regras de uso das redes sociais. Após as publicações, usuários cobraram das plataformas que os dois sejam punidos.
O primeiro foi Jair. Em sua live semanal, o presidente leu a carta, supostamente escrita por um feirante que se suicidou na Bahia. Nela, ele culpa as restrições no comércio pela sua derrocada financeira e sua decisão de se matar.
Em seguida, Eduardo foi além, publicando as imagens da carta e do corpo do feirante. Não publicaremos o post aqui.
A reação dos usuários foi de cobrar das redes sociais que retirassem as postagens do ar ou até suspendessem as contas dos dois. Isso porque as plataformas possuem política de prevenção ao suicídio, que inclui penalidades.
No Twitter, por exemplo, ela é aplicada a quem “promova ou incentive comportamentos de automutilação e apoia quem se submete a experiências com pensamentos de suicídio e automutilação”. No caso de Eduardo, como ele mostrou imagens da carta e do corpo, também violou as regras de conteúdo sensível.
Novas publicações sobre o caso
Na manhã desta sexta (12), a publicação de Eduardo Bolsonaro não estava mais disponível. No entanto, não é possível dizer se o próprio autor a apagou ou se o Twitter a removeu. No começo da manhã, Eduardo fez duas publicações relacionadas ao caso. Na primeira, divulgou a íntegra da live em que o presidente Jair Bolsonaro lê a suposta carta de um suicida; na segunda, o deputado publicou um texto de um site que reproduz as imagens do corpo da vítima e da suposta carta. Na legenda, Eduardo escreveu “lockdown mata”.
Ao afirmar que lockdown poderia ter levado o feirante ao suicídio, o deputado comenta o caso de forma simplista.
O manual da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre como noticiar suicídio indica que “deve-se abandonar teses que explicam o comportamento suicida como uma resposta às mudanças culturais ou à degradação da sociedade”. Isso porque o suicídio é um ato que pode ou não estar relacionado a causas objetivas. As variáveis são incontáveis.
Ainda de acordo com o manual, “o suicídio não deve ser mostrado como inexplicável ou de uma maneira simplista”. Além disso, recomenda-se a figuras públicas que ao noticiar ou comentar casos de suicídio divulguem serviços de saúde mental disponíveis por meio de sites e contatos telefônicos.
Entre os destaques sobre o que não se deve fazer ao noticiar ou comentar um caso de suicídio consumado está o não compartilhamento de fotos do corpo da vítima ou cartas suicidas, bem como se recomenda não divulgar detalhes do método utilizado nem fornecer explicações simplistas, não glorificar ou fazer sensacionalismo com o suicídio, não associar o caso a estereótipos religiosos ou culturais e não atribuir culpas.
Efeito imitação
As principais autoridades de saúde do mundo destacam que a má divulgação de suicídios com divulgação de corpos, método e cartas suicidas podem causar o que é conhecido como efeito imitação ou efeito copycat, ou seja, a possibilidade de haver uma onda de suicídios causada pela notícia de um caso consumado.
O efeito imitação acontece quando uma ou mais pessoas que já estão em estado de vulnerabilidade se identificam com a vítima de suicídio consumado e encontram no suicídio uma forma de aplacar sua angústia.
Um estudo de 2019, publicado na revista JAMA Psiquiatry, indica aumento de suicídios consumados nos três meses que se seguiram a exibição da primeira temporada da série 13 reasons why, da Netflix, em que o método de suicídio de uma personagem é exibido e dramatizado. De maneira geral, os pesquisadores observaram um aumento de 12,4% nos casos de suicídio entre homens americanos e 21,7% entre as mulheres americanas.
A Netflix, na época, após duras críticas, reeditou o episódio e removeu a cena.
Esse é apenas um exemplo da imitação de suicídios e do efeito devastador da divulgação inconsequente de casos consumados.
Se você tem pensamentos suicidas ou conhece alguém que pode precisar de ajuda psicossocial, entre em contato com o CVV (Centro de Valorização da Vida) por meio do número 188, por chat ou email (https://www.cvv.org.br/). Todo o conteúdo da ligação e/ou troca de mensagens tem anonimato assegurado. Os serviços estão disponíveis 24h por dia.
CVV (Centro de Valorização da Vida)
Telefone: 188
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ERRAMOS: Eduardo Bolsonaro é deputado federal, e não estadual, como escrito em versão anterior do texto, que já foi corrigido.