Bradesco muda o tom de respostas a assédio de BIA, sua inteligência artificial, e viraliza nas redes

O fato de as mulheres lidarem com situações de assédio diariamente, em diferentes espaços, já não é mais novidade para ninguém.

Em 2018, uma pesquisa do Datafolha mostrou que 42% das brasileiras com 16 anos ou mais dizia já ter sofrido assédio sexual. No fim do ano passado, outro levantamento revelou que 97% das entrevistadas já haviam sido vítimas de algum tipo de assédio dentro do transporte público ou privado.

Mas nem todo mundo imagina que tal violência atinja também as inteligências artificiais.

Só em 2020, a BIA, robô de atendimento do Bradesco, recebeu cerca de 95 mil mensagens de ofensas e assédio sexual. Sim, em uma versão degenerada da narrativa do filme “Ela”, do diretor Spike Jonze, homens brasileiros se sentem no direito de xingar e até pedir nudes a uma mulher que sequer existe na vida real.

Frente a isso, o banco decidiu mudar o tom das resposta da BIA a agressões como essas. Indo na contramão da docilidade servil típica de assistentes virtuais como Siri e Alexa, a BIA agora se posiciona de forma mais contundente, sem subserviência ou passividade.

No lugar de “Não entendi, poderia repetir?”, agora a inteligência artificial já manda na lata um “Essas palavras não podem ser usadas comigo e com mais ninguém”.

Para o diretor de Marketing do banco, Márcio Parizotto, a mudança “amplifica ainda mais as vozes da sociedade e joga luz sobre um tema que precisa ser combatido com coragem, sem hesitação, promovendo atitudes mais respeitosas frente a situações de assédio”.

Alinhada com o projeto Hey Update My Voice, da UNESCO, que chama a atenção para o preconceito de gênero contra as assistentes virtuais, a iniciativa foi anunciada nesta segunda (5), em uma campanha que causou burburinho nas redes sociais.

Tanto para o bem.

Quanto para o mal.

Além da campanha e de ações nas redes sociais, o Bradesco também preparou uma live em seu canal no YouTube nesta quinta (8), com a apresentadora Rita Batista, a atriz Glamour Garcia e a psicanalista e colunista da Folha Vera Iaconelli.

Outra novidade é um podcast em que influenciadoras debaterão o tema com a produtora de conteúdo Mariana Torquato, que vai ao ar a partir de 26 de abril no Spotify.

Espera-se que a mudança no posicionamento da BIA também ajude a encorajar mulheres de carne e osso que ainda têm medo de falar sobre os assédios que sofrem.