Camarão em prato de Wagner Moura no MTST causa discussão política, regional e gastronômica

Uma foto publicada por Guilherme Boulos, membro da coordenação nacional do MTST, causou uma celeuma política, regional e culinária.

Em sua conta no Twitter, nesta sexta-feira (12), o filho do presidente e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ensaiou uma crítica ao MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) por servir camarão ao que chamou de “elite do partido”.

A foto que o deputado usa para ilustrar sua crítica é a do ator Wagner Moura comendo um prato de comida baiana (uma marmita plástica, para ser mais exato) durante um evento na ocupação Carolina de Jesus (zona leste) em que o seu filme Marighella foi exibido.

O artista comia um prato popular da cultura afro-brasileira. Nas redes, o termo acarajé viralizou, mas cabe explicar a diferença. O acarajé é o bolinho, feito à base de feijão fradinho e frito no azeite de dendê. O ator, na verdade, estava comendo caruru, vatapá, camarão e salada —que podem ser servidos no recheio do acarajé ou fora dele, no prato. O vatapá e o caruru, inclusive, levam camarão em sua receita.

O deputado Bolsonaro não foi o único a criticar o cardápio do ator.

O próprio Guilherme Boulos repercutiu o caso no Twitter. Para ele, a raiva que a foto de Wagner Moura comendo camarão na ocupação em São Paulo “mostra que o bolsonarismo vibra com a fome e, acima de tudo, desconhece a cultura brasileira”.

“Quem gosta de ver pobre roendo osso é o Bolsonaro”, escreveu o MTST, relembrando foto de Eduardo Bolsonaro vestido de xeque em viagem ao Oriente Médio.

O restaurante que fez a doação do cardápio para o evento, o Acarajazz, também fez menção ao caso. No perfil oficial do estabelecimento, a foto de Wagner Moura traz na legenda um novo apelido para o prato: “vatapazinho polêmico do amor”.

O Acarajazz é da família de Beatriz de Souza Alves, 31. Ela cuida da cozinha e já integrou a brigada do MTST. “Fui brigadista e me afastei por causa da pandemia. Essa é a segunda vez que levo acarajés em ocupação”, diz Alves.

A cozinheira disse à Folha que o Acarajazz levou cem acarajés prontos e cinco kits com o equivalente a 50 acarajés. Os kits tinham vatapá e outros ingredientes separados, para serem comidos no prato. “Era o que eu tinha aqui, comprei ingredientes de última hora, até dinheiro emprestado pegamos”, afirma.

O que Wagner Moura tinha em mãos na foto era parte desses kits e, segundo Alves, ele foi um dos primeiros a se servir. “A maior parte das pessoas que comeu eram as que moravam na ocupação”, disse.

O assunto está entre os mais comentados do Twitter neste sábado. Bolsonaristas estão associando o prato ao restaurante Coco Bambu.

Críticos do governo, no entanto, ironizam o elo criado com a franquia.

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Diferentemente do publicado, Wagner Moura não comia um "acarajé desmontado", mas um prato de comida baiana com caruru, vatapá, camarão e salada.