Guerra de versões sobre autoria de perfil Coronel Siqueira insufla redes sociais
Morreu nesta segunda-feira (29) em São Paulo (SP) de pancreatite Sérgio Vicente Liotte, advogado e geólogo de 48 anos a quem foi atribuída a criação do perfil do Coronel Siqueira, famoso no Twitter.
O personagem era um homem de meia-idade, bolsonarista, conservador e declaradamente ranzinza. Seu humor ácido, porém, revelava traços caricaturais do Brasil de hoje e dos atuais ocupantes do poder.
Como é comum com perfis virais e de paródia, o Coronel Siqueira nunca assumiu sua verdadeira identidade. Páginas como a dele costumam ter vários administradores, a fim de manter um ritmo frequente de postagens. Seria natural que fosse o caso aqui.
A Carta Capital, que publicava uma coluna assinada pelo personagem, também negou a morte do autor. “Siqueira segue vivíssimo”, escreveu o site. “Não tenho a menor ideia do que aconteceu. O cara que morreu deve ter dito que era o coronel e acreditaram. Sou só eu, sempre fui uma pessoa só”, disse o suposto autor à revista.
“Estão tentando me convencer seriamente de que eu não sou eu.”
Depois da repercussão, o perfil do Coronel Siqueira no Twitter e em outras redes sociais foi deletado.
Em live no DCM, a esposa de Sérgio Vicente Liotte, Patricia, reafirmou que o marido é o criador do Coronel Siqueira e disse que ele concedeu acesso a outras pessoas numa “conta multipessoal”.
“Esta é primeira vez que falo sobre Coronel Siqueira. Jamais imaginei que a morte do meu marido ia atingir o trending do Twitter. O Coronel Siqueira era uma forma de crítica à economia, ao governo, a situações do cotidiano no qual o brasileiro está envolvido. Eu não teria motivo de vir aqui falar no Twitter de um perfil que não pertencesse ao meu marido, até porque nesse momento de dor a última coisa que eu gostaria era de estar numa live”, afirmou.
“A internet é uma terra de ninguém, aonde as pessoas não tem o mínimo de empatia pela dor do outro.”
O diretor do DCM, Kiko Nogueira, questionou ao atual administrador da página satírica por que ele ainda não havia aparecido. “O cara está fazendo em torno da conta de quem aparentemente se apropriou um barulho que pra ele vai ser bom.”
A Carta Capital publicou nesta terça (30) a coluna do Coronel Siqueira com o título “A quem interessa matar o Coronel Siqueira?“. No texto, o suposto administrador da página mantém-se anônimo, reafirma que é o criador do perfil e dá detalhes até então inéditos, “pela primeira vez não do ponto de vista do Coronel, mas do autor”.
Diz morar na Europa desde antes de 2013 –e não em São Paulo ou Porto Alegre, como se pensava– e afirma que resolveu criar o perfil satírico “impressionado pela loucura dos bolsominions e por tudo que estava acontecendo”. Siqueira foi o primeiro nome que me veio à cabeça. Para o nome de Twitter, escolhi ‘direitasiqueira, uma homenagem a Sérgio Camargo [presidente da Fundação Palmares], cujo username é @sergiodireita1″.
O perfil, então, fez sucesso, atingindo mais de 150 mil seguidores desde sua criação em dezembro de 2019.
O autor do texto na Carta Capital diz controlar contas do perfil em várias plataformas (Twitter, Gmail, ProtonMail, Facebook, Instagram, Linktree e Spotify) e afirma ter produzido a foto usada como avatar no site This Person Does Not Exist, que utiliza inteligência artificial para gerar rostos ficcionais — Patrícia afirma que a imagem é a de um tio seu, morto há três anos.
O colunista diz ter declarado ao repórter do DCM que era o único autor, mas teria ouvido do jornalista que a checagem apontava para Sérgio. “A situação foi virando uma mistura de Kafka com Black Mirror. Tinha alguém me acusando de, bem, não ser eu mesmo.”
O #Hashtag procurou o Twitter, mas a empresa afirmou que não pode dar detalhes sobre o perfil, uma conta privada, amparada na privacidade dos usuários e na legislação em vigor.
Assim, seguimos sem decifrar quem tem razão na guerra de versões.
Veja tuítes do Coronel Siqueira antes do perfil sair do ar e que tanto sucesso fizeram.