Na noite dos memes, deepfake vence principal categoria e sinaliza que o futuro chegou

Um dia após ser expulso de carro de som por críticas a Bolsonaro, em Copacabana, no Rio, o humorista Marcelo Madureira era visto caminhando sozinho de um lado para o outro em um espaço de eventos na zona sul de São Paulo. Sua preocupação na noite de 26 de agosto não tinha nada a ver com política, e sim com memes. 

Madureira é fundador da Flocks, empresa que gerencia canais digitais, e organizadora da primeira edição do MemeAwards, a premiação de melhores memes do ano. 

São dois objetivos com o MemeAwards: mostrar que meme é coisa séria e pode ser um caminho profissional e chamar atenção do mercado publicitário, um nicho cada vez mais interessado em campanhas com uso de virais da internet. 

“O MemeAwards é justamente para que essas pessoas que fazem meme tenham um caminho profissional, para que se torne uma linguagem, tenha uma discussão do que funciona e não funciona. Um prêmio estimula essa diversidade”, afirma Pedro Paulo Magalhães, também fundador da Flocks. 

A dupla aposta no número de adolescentes envolvidos com as comunidades de sete canais criadores de memes e idealizadores do MemeAwards: South America MemesO Brasil que Deu CertoLDRVETlândiaMacintosh 1984BCharts e Bad Vibes Memes.

“Essas comunidades têm uma hierarquia de aprovação, o meme precisa ter qualidade para ser publicado, isso já é um início de profissionalismo. Vários garotos que começaram muito pequenos hoje já têm canais com 400 mil, 500 mil seguidores”, diz Pedro Paulo. 

Kaique Costa, 14, membro da South América Memes, é um exemplo disso. Em 2016, quando tinha apenas 11 anos, ficou um tempo internado no hospital devido a um problema de pele que possui. Resolveu ver coisas engraçadas na internet e acabou caindo na comunidade. 

“A South America Memes mudou minha vida, passei a fazer as pessoas rirem. Quero trabalhar com isso no futuro, ganhar dinheiro”, conta o adolescente, cujo trabalho é procurar vídeos não populares no YouTube e inserir elementos populares para torná-lo viral. 

Kaique Costa, 14, que faz memes na internet. Foto: Mateus Camillo/Folhapress

Para Madureira, o meme é plural, diferente da polarização atual do Brasil, do qual ele foi vítima. “O meme é democrático em sua essência. Qualquer menino pode fazer um meme, pode usar essa linguagem. Não é necessário o cara ter um grande equipamento. É isso que queremos incentivar”. 

PREMIAÇÃO

A premiação foi dividida em cinco categorias: melhor meme em imagem, melhor meme em vídeo, melhor artista em meme, melhor trilha sonora, e o conjunto da obra. 

O público presente era variado. 

O humorista Paulo Bonfá, ex-MTV, estava ali a convite dos organizadores. Ele se diz fã de memes e vê neles “um bastião do politicamente incorreto”, uma vez que “hoje em dia o humor está tolhido demais”. 

Humorista Paulo Bonfá, que se diz fã de memes. Foto: Mateus Camillo/Folhapress

Havia até um meme em carne e osso. Deborah Moreira, a “Deborah do Falsete”, amiga da MC Melody que viralizou nas redes sociais em 2015 por soltar gritinhos agudos em vídeos, deu algumas palhinhas de seu som estridente no palco. 

Ao abrir a apresentação, Raony Phillips soltou: “Com Amazônia pegando fogo, vocês tão falando de premiação de memes?” A plateia riu, sinalizando que o meme tem de rir de si próprio, como se fosse uma função social. 

O destaque ficou com a principal categoria da noite, o conjunto da obra. O vencedor foi Bruno Sartori, 30, com seus vídeos de deepfake, que viralizaram a partir de maio (em resumo, colocar o rosto de uma pessoa em outra). 

“Não faço deepfake pensado em ser meme, mas, como tem atenção de um grande público, ele acaba se tornando. Eu acho importante que esse trabalho seja notado e que a tecnologia de deepfake se torne popular para que a população conheça e passe a desconfiar [de vídeos mentirosos]”. 

A vitória do deepfake dá uma mostra do que vem por aí. Se as eleições de 2016 nos EUA e 2018 no Brasil ficaram marcadas pelo uso de fake news e desinformação, em 2020 a tendência é que o deepfake se torne cada vez mais comum –e perigoso

Conheça os vencedores:

Conjunto da obra

Melhor trilha sonora

Melhor meme em imagem

Melhor artista em memes

Bruno Sartori recebe prêmio de Conjunto da Obra. Foto: Divulgação