Relembre os memes e piadas que dominaram as redes sociais em 2019

É impossível dissociar o noticiário dos memes. Seja na política, em esportes, meio ambiente, na cultura e até na economia, eles estão consolidados na nossa forma de entender o mundo.

O ano de 2019 foi um prato cheio para memes. Com um governo tão peculiar como o de Bolsonaro, a internet teve uma oferta inédita de assuntos para transformar em piadas críticas.

O #Hashtag apresenta a retrospectiva anual de memes (acesse aqui a de 2018 e mate saudades do ano passado).

REINO ANIMAL
Poucos vídeos tiveram mais impacto no ano do que aquele, publicado no fim de outubro, em que o presidente Jair Bolsonaro (atualmente sem partido) se comparou a um leão acossado por hienas. Hienas essas representadas pelo STF (Supremo Tribunal Federal), PSL (detalhe: era seu partido à época), partidos de esquerda como PT e PSOL, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e veículos de imprensa, incluindo a Folha.

O tuíte do presidente veio depois de algumas postagens com teor semelhante do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), seu filho. Antes, Carlos assumira pela primeira que atualiza as redes sociais do pai.

O Congresso e o STF reagiram fortemente ao vídeo. Dias depois, estouraria o caso do porteiro do condomínio de Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro cogitaria novo AI-5, aumentando ainda mais a retórica autoritária do bolsonarismo.

Se há uma inflexão autoritária no país, os memes estão aí para relembrar alguns fatos.

CONVERSA ANIMAL
Com um governo tão movido pelas redes sociais e pelos memes, era natural esperar que a retrospectiva fosse movimentada.

O que ninguém poderia esperar é que um dos fatos que marcaram as redes nesse 2019 fosse uma conversa desenvolvida toda em emojis.

Ex-aliados, Carlos Bolsonaro e a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) passaram a figurar em grupos opostos desde que questões como poder dentro do partido e dinheiro do fundo eleitoral vieram à tona. De um lado, o bolsonarismo puro (Carlos); de outro, o peeselismo bivarista (Joice).

Os tuítes começaram do lado bolsonarista:

– Porco, rato, cobra, galinha, lula…

Cerca de uma hora depois, foi a vez da deputada. Não com uma resposta direta, mas usuários da rede fizeram a associação imediatamente:

– Veado, veado, veado, rato branco, rato cinza, rato cinza.

Joice é conhecida por ter uma personalidade belicosa. Em maio, ela e a também ex-colega e deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) protagonizaram uma pancadaria virtual e muitos torceram pela briga.

PSL X PSL
O distanciamento entre alas do PSL ficaria evidente logo no começo do ano, quando alguns deputados, com Joice Hasselmann na linha de frente, se aliaram ao centrãozista Rodrigo Maia (DEM-RJ).

O ápice, ainda em janeiro, se deu quando uma comitiva de parlamentares recém-eleitos do PSL viajou à China para estudar um sistema de reconhecimento facial. O escritor Olavo de Carvalho, guru e ideólogo direitista, não gostou nada da aproximação dos congressistas com a ditadura chinesa, chamou-os de “palhaços”, e o assunto logo virou meme com a “comitiva comunista do PSL”.

No entanto, aos trancos e barrancos, com um foco ali e outro acolá de incêndio, o partido foi se sustentando.

Em outubro, uma briga homérica tornou as queimadas incontroláveis. Até parecia a Amazônia.

Em resumo, houve uma disputa pela liderança do PSL na Câmara, que era ocupada pelo Delegado Waldir (GO). Após uma guerra de listas, o posto acabou com Eduardo Bolsonaro.

Ainda viria à tona um áudio de Waldir dizendo que iria implodir o governo de Jair Bolsonaro e chamando o presidente de vagabundo.

“Vou fazer o seguinte, eu vou implodir o presidente. Aí eu mostro a gravação dele, eu tenho a gravação. Não tem conversa, eu implodo o presidente, cabô, cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo, cara. Eu votei nessa porra, eu andei no sol 246 cidades, no sol gritando o nome desse vagabundo”, disse o deputado.

Um meme resume com perfeição o que foi o PSL nesse mês de outubro de 2019: #EleNão.

Em novembro, Bolsonaro sairia do PSL e criaria o Aliança pelo Brasil, cujo manifesto é mais radical do que a Arena da ditadura.

FROTA
Não dá para falar de memes e política brasileira em 2019 sem mencionar o caso Frota.

Nas eleições de 2018, foi um ferrenho bolsonarista eleito deputado federal . Nem bem virou o ano, parecia o fundador do movimento “Jair me Arrependi“.

Em fevereiro, a Folha revelou esquema de candidatas laranjas no PSL. Poucos dias depois, lá estava Frota falando que “laranja podre vai cair” e espremendo laranjas no plenário da Câmara.

Dali em diante, Frota entraria na ala oposicionista do PSL.

Em vez de controlar os dedos no celular, o ex-ator pornô só aumentou as críticas em quantidade e intensidade.

A situação degringolaria de vez em agosto, quando o PSL decidiu expulsá-lo.

Isso não pareceu assustar Frota, que dias depois se filiaria ao PSDB.

Uma vez tucano, Frota se sentiu ainda mais à vontade para atacar Bolsonaro e seus seguidores. Viveu inclusive um dia de fúria, com mais de 80 postagens contrárias ao governo. Uma das imagens publicadas nesse dia foi essa:

Obviamente, Frota virou um “esquerdista” nas redes sociais.

MOURÃO
O vice-presidente Hamilton Mourão foi muito ativo no início do mandato, dando inúmeras entrevistas a jornalistas. Muitas delas causaram constrangimento no Planalto por criticar posturas do governo e falas de Bolsonaro. No decorrer do ano, Mourão foi sumindo dos holofotes.

Foi assim, por exemplo, quando Mourão defendeu investigação contra o laranjal do ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio. O polemista Olavo de Carvalho se irritou com a postura do general, chamou-o de “idiota” e disse que tinha “mentalidade golpista”. A ala da militância virtual completou com os memes: Mourão é comuna.

O PISTOLEIRO-GERAL DA REPÚBLICA
Se havia um personagem que estava esquecido pelos memes, este era o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.

Afastado do noticiário desde a posse de Raquel Dodge, em setembro de 2017, o ex-PGR revelou em setembro que entrou uma vez no Supremo Tribunal Federal armado com uma pistola com a intenção de matar o ministro Gilmar Mendes, por causa de insinuações que ele teria feito sobre sua filha em 2017.

O ex-procurador narra o episódio num livro de memórias que foi lançando naquele mês, sem nomear Gilmar. Ele confirmou a identidade de seu alvo ao ser questionado pela Folha. “Tenho uma dificuldade enorme de pronunciar o nome desta pessoa”, disse.

Ao saber, Gilmar se disse surpreso e recomendou tratamento psiquiátrico a Janot.

Na internet, ele se tornou o Pistoleiro-Geral da República.

Montagem de Janot e Gilmar Mendes sobre foto de Greta Thunberg (Reprodução)

Uma versão de Faroeste Caboclo, do Legião Urbana, passou a circular em grupos de WhatsApp.

Não tinha medo o tal Janot de Santo Cristo
Era o que todos diziam quando Dilma o escolheu
Deixou pra trás todo o marasmo do Supremo
só pra sentir no seu sangue o ódio
que Gilmar lhe deu

Quando criança só pensava em ser jurista
ainda mais que com flecha de bambu o temer não morreu
Era o terror da procuradoria onde atuava
E no zap até o Deltan com ele aprendeu

 Ia na UFMG só pra pegar o óculos escuros
pra tomar cerveja atrás das caixas em um bar
Sentia mesmo que era mesmo diferente
Sentia que aquilo ali não era seu lugar

Ele queria continuar a ir no bar
com o advogado que negociou delação
juntou dinheiro para poder se barbear
de escolha propria, cavanhaque em promoção

Comia todas as lagostas da cidade
de tanto brincar de advogado aos 13 foi procurador
Aos 15 foi reconduzido ao cargo,
onde aumentou seu ódio diante de tanto terror

Não entendia como o ativismo funcionava
discriminação por causa da LavaJato, seu amor
Ficou cansado de tentar achar resposta
E comprou uma passagem, foi direto a Curitiba

E lá chegando foi tomar um cafezinho
E encontrou um lavajateiro com quem foi falar
E o lavajateiro tinha uma mensagem e ia perder a viagem
Mas Janot foi lhe ajudar

Dizia ele eu queria ir pra Brasília
Nesse país foro melhor não há
to planejando ser ministro da justiça
eu fico aqui você vai no meu lugar

AMAZÔNIA
A floresta amazônica figurou no noticiário como talvez nunca antes. O Brasil bateu recorde atrás de recorde de desmatamento, incluindo o levantamento anual, que apontou um aumento de 29,5% em 12 meses (de agosto de 2018 a julho de 2019).

A solução do governo foi apontar como culpados os dados do Inpe, gestões anteriores, a cultura do brasileiro e Leonardo DiCaprio.

Leonardo DiCaprio? Isso mesmo, Bolsonaro acusou o ator hollywoodiano de financiar entidades brasileiras que causaram incêndios na floresta amazônica. “Agora, o Leonardo DiCaprio é um cara legal, não é?”, questionou. “Dando dinheiro para tacar fogo na Amazônia”, acrescentou em conversa com um grupo de eleitores na entrada do Palácio do Alvorada.

Em agosto, o astro americano anunciou que a fundação da qual ele é criador, a Earth Alliance, doaria US$ 5 milhões a um fundo emergencial que destinaria o montante para ajudar entidades brasileiras no combate à série de queimadas.

Bolsonaro estava certo. Nas redes sociais, as pessoas descobriram como o artista botou fogo na Amazônia.

AMOR I LOVE YOU (NÃO ERA AMOR, ERA CILADA)
A relação entre Bolsonaro e Trump começou com Marisa Monte e terminou em Molejo.

“Amor I Love You”, de Marisa Monte, poderia ser a música tema desde a campanha presidencial, pois Bolsonaro sempre se derreteu em elogios a Trump.

Em março os dois se encontraram na Casa Branca, o que só aumentou o amor. E assim foi em todos os encontros seguintes, como na cúpula do G20 ou na Assembleia-Geral da ONU.

Para agradar a Trump, o Brasil começou a fazer uma série de concessões. Abdicou, por exemplo, de um tratamento especial na OMC (Organização Mundial do Comércio) pelo apoio dos EUA na entrada do Brasil na OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Em agosto, o primeiro balde de água fria.

O governo dos Estados Unidos deu respaldo às candidaturas de Argentina e Romênia para uma vaga na OCDE em uma carta enviada ao órgão.

No documento, não havia nenhum apoio à candidatura do Brasil —o país não é sequer citado.

Como as redes sociais definiram tão bem, o governo Bolsonaro foi vítima do famoso “na volta a gente compra”, só que na versão “na volta a gente entra na OCDE“. 

No começo de dezembro, a relação sofreria outro abalo.

Trump anunciou que vai vai retomar as tarifas para importação de aço e alumínio do Brasil e da Argentina. “Brasil e Argentina desvalorizaram fortemente suas moedas, o que não é bom para nossos agricultores. Portanto, com vigência imediata, restabelecerei as tarifas de todo aço e alumínio enviados aos Estados Unidos por esses países”​, escreveu o americano.

O Brasil adota um regime de câmbio flutuante, ou seja, o país não valoriza ou desvaloriza a moeda de propósito, como acusou o americano.

Parece que não era amor, era cilada, como já avisavam os meninos do Molejo.

Para Bolsonaro, no entanto, não é porque um amigo falou grosso que se deve dar as costas a ele.

Não é de hoje que avisam o presidente brasileiro que ele está numa relação abusiva.

Fique agora com a trilha sonora!

A relação com os EUA é tão intensa que deixa Bolsonaro até nervoso.

Ele esteve em Dallas, no Texas, para receber o prêmio “personalidade do ano”, organizado pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.

No evento, o presidente bateu continência à bandeira dos Estados Unidos e defendeu uma relação de proximidade com o país norte-americano.

Ao final de seu discurso, adaptou o slogan de campanha. “E termino com meu chavão de sempre: ‘Brasil e Estados Unidos acima de tudo’”, mas se atrapalhou com a segunda parte.

LIVES PRESIDENCIAIS
Toda quinta-feira à noite, pontualmente às 19h, os seguidores de Bolsonaro (e os jornalistas) sabem que há compromisso: a live presidencial, ao vivo no Facebook. É o momento no qual Bolsonaro se sente mais livre, na frente de uma tela, e acompanhado por assessores escolhidos a dedo. O presidente cria polêmicas, atacas inimigos e faz brincadeiras com os convidados (algumas constrangedoras, como foi com Moro e o troca-troca).

São nessas lives que surgem memes, alguns deles marcantes.

Numa transmissão de agosto, Bolsonaro afirmou que Doria “mamou” em governos do PT. Ele se referia a compra de jatinho com empréstimo do BNDES por empresa do governador paulista.

“João Doria comprou também. Explica isso aí. Só peixe. Amigão do Lula, da Dilma. Eu vejo o Doria falando de vez em quando ‘minha bandeira jamais será vermelha’. É brincadeira! Quando estava mamando lá a bandeira era vermelha com um foiçasso e um martelo sem problema nenhum, né? Ihuuuu, tá ok? Valeu, boa noite pessoal, até semana que vem, se Deus quiser”, disse.

O “ihuuuuu”, no maior clima rodeio, viralizou nas redes.

Outra transmissão que gerou memes foi feita em junho. Bolsonaro estava no Japão para a cúpula do G20.

Em certo trecho, mostrou uma bijuteria de nióbio que comprou na viagem e comentou:

“Tem de várias cores. A vantagem em relação ao ouro são as cores, e ninguém tem relação alérgica ao ouro. Alguns têm ao ouro. Às vezes a mãe bota o brinquinho na orelha da menina -menina, deixar bem claro- e tem reação, e isso aqui de nióbio não tem. Isso custa mil dólares, mais ou menos quatro mil reais. Isso de ouro valeria talvez uns três mil reais no Brasil”.

Essa fixação pelo nióbio vem desde a época em que o presidente era deputado federal.

Quando deixar o cargo, Bolsonaro poderá tranquilamente ser garoto propaganda do Medalhão Persa.

VAZA JATO
As revelações do site The Intercept Brasil, que teve acesso a mensagens hackeadas dos celulares do ex-juiz Sérgio Moro e dos procuradores da Lava Jato, colocaram a popular operação que prendeu políticos, entre eles o ex-presidente Lula, sob suspeição.

As conversas desvendaram métodos pelos quais autoridades lidaram com o decorrer das investigações e que não estariam condizentes com o devido processo legal.

A primeira reportagem do site de Glenn Greenwald foi publicada em 9 de junho.

Em 23 de julho, a PF prendeu quatro suspeitos de hackear celulares de Moro e Deltan. Um dos presos, Walter Delgatti Neto, 30, era de Araraquara (SP).

Apoiadores de Moro e da Lava Jato diziam nas redes que os invasores eram, na verdade, hackers russos. Quando veio a notícia de que eles eram do interior paulista, os memes fizeram a festa. “O hacker russo é de Taubaté” (se você não entendeu o crossover de memes, precisa conhecer a história da falsa grávida de Taubaté).

Parabéns Pavão Misterioso, o Sherlock Holmes brasileiro.

Moro também foi personagem preferencial dos memes.

Quando estourou o “InFuxWeTrust“, lá estava o ministro carregando um calendário com a mensagem.

Já os procuradores ganharam versões atualizadas do clássico Powerpoint de Deltan.

ECONOMIA
Uma das regras universais dos memes é que se algo atinge o bolso das pessoas em pouco tempo virará um. E com a carne aconteceu exatamente isso. Em meados de novembro o preço disparou –por fatores como o boom de importação da China e a entressafra— e as brincadeiras rechearam as redes sociais.

ATENÇÃO: novas embalagens de carne já estão à venda.

Em substituição ao espetinho de carne, o espetinho de ovo é o novo aperitivo dos ambulantes.

Outro assunto da área econômica que virou meme foi a ideia, um tanto estapafúrdia aventada pelo governo, de criar uma moeda conjunta com os argentinos, a “peso real”.

O peso argentino é conhecido por ser uma moeda extremamente volátil, tanto que o governo Macri teve até de criar uma nota de mil pesos. A inflação do país invariavelmente encontra-se descontrolada.

Esse episódio serviu para mostrar que os memes brasileiros valem milhões de dólares.

Imagina o filho chega na mãe: “mãe, me dá 20 peladonas para comprar sorvete”

Por fim, Bolsonaro, que tanto critica o governo de Dilma Rousseff, “Dilmou“.

Foi em abril, quando o presidente interferiu no preço do diesel.

A intervenção na política de preços da Petrobras foi prática do governo da petista e amplamente criticada pelo mercado e pela oposição da época.

O ato do presidente foi contra seu discurso liberal.

A contradição foi apontada pelo próprio vice Mourão

“Em tese é [uma contradição]. Agora, como eu respondi, os fatos que chegaram ao conhecimento do presidente não são do meu domínio, portanto, eu acredito no bom senso dele e que tomou essa decisão buscando o bem maior.”

Bolsonaro se justificou:

“Eu liguei para o presidente [da Petrobras] sim. Me surpreendi com o reajuste de 5.7%. Não vou ser intervencionista. Não vou praticar a política que fizemos no passado, mas quero os números da Petrobras”.

A internet não quis saber e não perdoou.

TABATA AMARAL
Em julho, a reforma da Previdência avançou em primeiro turno na Câmara dos Deputados.

Havia tanta coisa para a esquerda brasileira estar preocupada. Mas boa parte dela preferiu o debate em torno de Tabata Amaral (PDT-SP), que votou a favor da reforma.

Usando uma expressão que se popularizou em 2019, a esquerda “cancelou” Tabata. O PDT chegou a ameaçá-la de expulsão, mas o processo não vingou –ela e outros dissidentes que agora querem sair do partido.

Tabata Amaral se considera de centro-esquerda, mas diz ter posições liberais na economia, como foi sua opção na Previdência. As mudanças nas aposentadorias irão aliviar (um pouco) as finanças brasileiras nos próximos anos.

Nos memes, Tabata virou partidária do Novo.

Tabata Amaral entra para o partido Novo nos memes após votar pela Previdência. Foto: Reprodução

CULTURA
Não foi um bom ano para a Cultura. A área foi asfixiada pelo governo Bolsonaro em diversos setores. Instituições como Ancine, Funarte, Biblioteca Nacional, Fundação Palmares, Caixa, Banco do Brasil, dentre outras, passaram a conviver com nomeações contestadas, aparelhamento ideológico, cortes de verbas e censuras.

O maestro Dante Mantovani, por exemplo, foi designado para a presidência da Funarte, e o anúncio de seu nome já chegou agitando as redes sociais.

Em seu canal no YouTube, ele compartilha reflexões e teorias da conspiração sobre política e arte.

Assim Mantovani classifica a relação entre o filósofo alemão Theodor Adorno e os Beatles:

“Na esfera da música popular, vieram os Beatles, para combater o capitalismo e implantar a maravilhosa sociedade comunista”.

Completa Mantovani:

“O rock ativa a droga que ativa o sexo que ativa a indústria do aborto. E a indústria do aborto alimenta uma coisa muito mais pesada, que é o satanismo. O próprio John Lennon disse abertamente, mais de uma vez, que fez um pacto com o satanás.”

Essa fala, ao menos, alimentou a cultura dos memes, que essa sim anda a todo vapor e (ainda) não pode ser censurada.

Aqui é Rock and Roll \o/

EDUCAÇÃO
Assim como a Cultura, a Educação foi outra área conturbada, para dizer o mínimo. Cortes de verbas essenciais, inúmeras demissões no alto escalão do MEC, protestos.

O primeiro ministro da pasta, Ricardo Vélez Rodriguez, foi inoperante no cargo, além de se envolver em polêmicas como a de pedir que escolas filmassem, sem autorização dos pais, crianças cantando o hino nacional.

Não durou muito no cargo e foi substituído por outro polemista, Abraham Weintraub, que passa boa parte de seu tempo atacando o PT, a esquerda e a imprensa em vez de se preocupar com os reais problemas da educação no país.

Muito atuante nas redes, Weintraub cometeu atos falhos e erros crassos de português. Por isso, foi figurinha constante nos memes.

O Processo

Internautas ficaram petrificados ao ver a postagem do ministro que escreveu paralisação errado duas vezes. O povo é muito afobado.

O manual de redação do MEC fez escola em outras pastas.

Um post do ministério da Ciência escrito em um português sofrível foi muito criticado nas redes.

STREAMING
O sargento da Aeronáutica brasileira, que fazia parte da comitiva do presidente Jair Bolsonaro, e foi detido no aeroporto de Sevilha, na Espanha, com 39 kg de cocaína na mala, movimentou as redes sociais em junho.

Inicialmente, Bolsonaro iria fazer escala na Espanha, mas mudou a rota para Portugal quando o problema surgiu, antes mesmo de deixar o Brasil.

“É óbvio que, pela quantidade de droga que o cara tava levando, ele não comprou na esquina e levou, né? Ele estava trabalhando como mula. Uma mula qualificada, vamos colocar assim”, disse o vice-presidente Hamilton Mourão.

A internet respirou fundo e criou uma nova série para a Netflix.

E já veio com pôster promocional.

COMPORTAMENTO
Foi um ano com uma pauta intensa de costumes, embora ela tenha empacado no Congresso.

Uma das responsáveis por isso foi a ministra Damares Alves, da Mulher, Família e Direitos Humanos. Logo no segundo dia útil de mandato ela mostrou a que veio. Disse que o Brasil estava entrando em uma nova era. “Menino veste azul, menina veste rosa”.

A internet vestiu memes.

REDES SOCIAIS
Em visita a Porto Alegre, Orkut Büyükkökten estava “fazendo novas amizades” no app de relacionamentos Tinder, mas disse ter sido bloqueado pela plataforma. Aí ele resolveu reclamar no Twitter.

Segundo o tuíte, o empresário turco foi denunciado no Tinder por usuários desconfiados de que o perfil dele seria falso. Com isso, ele foi bloqueado pela plataforma. “#EuSouReal”, apelava a mensagem.

Orkut, Tinder, Twitter. Só pelo fuzuê de nomes, essa notícia já merecia uma menção honrosa na retrospectiva dos memes.

Pelo carinho especial que os brasileiros guardam do Orkut (a rede social), ganhou um espaço mais do que merecido.

Para quem é mais novinho ou desmemoriado, um contexto: Orkut era um engenheiro do Google e criou um site batizado com seu primeiro nome e que, por meia década, foi o principal sinônimo de rede social no país.

Em 2019, fez 15 anos de seu surgimento e 5 anos que fechou as portas.

DEEPFAKE
Em junho, as deepfakes –os vídeos modificados– entraram em uma nova era. E Bolsonaro teve uma grande colaboração.

Ele deu uma entrevista na saída do centro médico do Palácio do Planalto e comentou sua relação com o Congresso. “Pô, querem me deixar como rainha da Inglaterra? Este é o caminho certo?”, indagou.

Horas depois, o criador de conteúdo Bruno Sartori fez este vídeo, que viralizou:

Meses depois, Sartori venceria a principal categoria em uma premiação de memes.

Em 2020, anotem aí: as deepfakes darão ainda mais o que falar.

Em tempo. Photoshop é old, but gold.

“Pô, querem me deixar como rainha da Inglaterra?”, questionou Bolsonaro. Nos memes, ele virou.

FUTEBOL
O ano foi do Flamengo, que venceu a Libertadores e o Brasileirão na mesma temporada, o que não acontecia desde 1963, quando o Santos realizou o feito.

Natural, portanto, que os memes futebolísticos do ano fossem dominados pelo rubro-negro carioca.

O meme do cheirinho surgiu em 2016, quando o Flamengo fazia boa campanha no Brasileiro e os torcedores já diziam sentir o “cheirinho do hepta” (ou hexa, para os fãs do Sport). Acabou em 3º lugar e torcedores do Brasil inteiro passaram a tirar sarros dos flamenguistas.

Em 2019, finalmente, o meme foi extirpado.

Não bastasse tudo isso, os títulos da Libertadores e do Brasileiro vieram no mesmo final de semana, em menos de 24 horas. Haja meme para dar conta de tamanha felicidade.

Do outro lado da moeda, o Cruzeiro, rebaixado pela primeira vez em sua história de 98 anos, foi vítima de memes. Em  meio a um turbilhão político, a campanha no Campeonato Brasileiro foi tão lamentável que até a fé abandonou o clube mineiro.

O Corinthians não ganhou muitos títulos em 2019 (só um Paulistão). Mas seu estádio ganhou um apelido.

A dívida com a Arena Corinthians, inaugurada para a Copa do Mundo de 2014, vem crescendo ano a ano.

Em setembro, o estádio passou a ter o nome no Serasa.

Foi o suficiente para rivais renomearem a construção: Arena Serasa, Serasão, Seresa Stadium.

DESAFIO
Achou que não teria desafios? Achou errado.

O desafio que viralizou em 2019 foi da cor do tênis.

Rosa ou verde e cinza?

A foto já havia viralizado em 2017, mas retornou com força nas redes sociais este ano.

É possível comprovar a cor verdadeira do tênis com programas de edição de foto que captam as tonalidades presentes na imagem. Se você é do “time verde e cinza”, parabéns: você “ganhou” este desafio, assim como quem via o vestido da cor azul.

ALEATÓRIO
Em 2019, Ronaldinho Gaúcho perdeu o posto de rei dos rolês aleatórios, que agora é do ator Keanu Reeves. Ele se encontrou com o governador de SP João Doria para discutir gravações na capital paulista. A internet achou muito aleatório.

CELEBRIDADES
No mundo dos famosos, nenhum meme superou o “surubão de Noronha“, que virou até fantasia de Carnaval.

OURO
E para fechar com chave de ouro (desculpem o trocadilho), golden shower.

Era início de mandato de Bolsonaro, e o Brasil e o mundo ficaram estarrecidos com um tuíte.

Na noite da terça-feira de Carnaval, o presidente publicou em seu perfil no Twitter um vídeo de uma cena em São Paulo em que um homem introduzia o dedo no próprio ânus e depois recebia urina no rosto, dizendo que “é isto que tem virado muitos blocos de rua no Carnaval brasileiro”. Ele foi muito criticado por generalizar um fato isolado.

No dia seguinte, o presidente perguntou em uma rede social “o que é golden shower” (nome popular em inglês para o fetiche de urinar na frente de um parceiro ou sobre ele). Os memes explicaram…

CANCELA, 2019
Usando expressão que ficou famosa na internet neste ano, 2019 foi cancelado. Esperemos agora os memes de 2020 (e também as figurinhas de WhatsApp).

 

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